Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade.
(Albert Einstein)
Enquanto seres humanos, vivemos sempre com os olhos e com o espírito virados para o futuro, para a frente, para tudo o que é novo e que está ainda por acontecer.
Diria mesmo que somos tão expectantes e ansiosos em relação ao futuro que por vezes, nem vivemos realmente o presente, ou sequer o apreciamos. Somos levados pela corrente que violentamente nos empurra para o que é novo e ainda não conhecemos.
Vivemos uma vida quase sem tempo para o presente, no fundo sem oportunidade para desfrutar e valorizar pequenas conquistas ou vitórias, de tal modo, que rapidamente esquecemos o quão difícil foi por vezes alcança-las. Cada vez menos nos apercebemos da importância de valorizar o que se tem, e que por vezes tão difícil foi de alcançar.
Sempre à espera de descobrir o que de novo acontece no mundo e quais as últimas novidades que são oferecidas quase ao momento, em tempo real.
É um facto incontornável que as novas tecnologias vieram aumentar e muito a nossa qualidade de vida, mas também contribuem ainda mais para a nossa ansiedade em face de tudo o que é novo, afastando-nos cada vez mais do que é naturalmente humano.
Hoje em dia vivemos para encontrar a próxima novidade, queremos sempre ser os primeiros a ter e/ou a conhecer essa inovação, na certeza de que o que hoje é novo, amanhã pouco ou nada interessa. Tal e qual um documento que após ultrapassada a sua validade administrativa, leva o despacho: ”Perdeu oportunidade – Arquive-se”.
É assim também connosco nos dias de hoje, neste universo que vive escravo das novas descobertas e inovações que a ciência nos oferece quase ao segundo.Tudo é efémero e de muito curta duração. Queremos sempre mais, melhor e de preferência mais agradável também, sempre mais…
Ouvi algures alguém afirmar que saber viver o momento presente, é conseguir colocar a mente onde o nosso corpo se encontra. Completamente de acordo.
Vivemos de grandes expectativas que colocamos muitas vezes a nós próprios, e no fundo estamos continuamente atrás de uma imensa insatisfação que nunca resolvemos, sendo mesmo interminável, porque após termos algo pelo qual muito lutamos para conseguir, perdemos o interesse, porque neste momento o meu desejo já parte noutra direção.
O ritmo de vida que temos não nos permite viver realmente o presente, estamos sempre entre o sofrimento ou a felicidade deste momento e o sufoco do que poderá estar para vir…
É tão simples ser feliz, mas o mundo condiciona-nos e transforma algo simples e fácil, em qualquer coisa quase impossível de alcançar.
Esta assumida necessidade de estar a par de todas as novidades, condiciona-nos e é quase como se nos tivessem mudado o chip, de repente não “é bem” ser-se simples. O que se valoriza e significa “estar in” para a sociedade, é justamente estar “up date” com tudo o que é novidade.
E quer queiramos quer não, há uma necessidade quase imperceptível que temos em seguir tudo o que é novo, admito que existam alguns resistentes, mas a esmagadora maioria sofre deste mal, esta necessidade que condiciona enormemente as nossas vidas.
De que modo nos condiciona? Em variadíssimos níveis e situações. Deixamos por vezes de ser verdadeiramente nós próprios, porque sabemos bem que não integrar o grupo dos “seguidores” de tudo o que é novo é o mesmo que estar quase out da sociedade, diria mesmo ser praticamente info excluído.
Quase os consigo ouvir: “Temos que estar sempre em linha com a novidade, caso contrário não acompanhamos o resto do mundo e a sua evolução”.
Qual mundo, pergunto eu? Aquele que esqueceu a importância de uma conversa cara a cara, aquele que já não conhece o aconchego de um abraço, ou de um “colinho” doce e quente que nos alivia o coração e aquece a alma, de tal modo, que nos permite ver a vida e os outros de forma completamente diferente.
A atração pela novidade e por tudo o que se produz na área das novas tecnologias, afasta-nos cada vez mais uns dos outros, condicionam as nossas escolhas e limita imenso as nossas ações.
Eu diria mais, já quase não nos conhecemos enquanto seres humanos, pessoas que tem sentimentos, que choram ou que se sentem felizes ou tristes pelo que lhes acontece na vida, no fundo, as novas tecnologias provocam-nos amnésia sobre o que é se humano…
Aliás, atrevo-me mesmo a dizer que todas estas inovações afastam de nós as emoções e sentimentos que nos distinguem dos restantes seres vivos, queremos tanto avançar tecnologicamente e aprender novas coisas e a viver sempre “em cima da onda”… conhecendo novos aparelhos e sistemas eletrónicos que supostamente são criados para nos facilitar a vida, será que facilitam mesmo?
Não creio, o que sei é que percebo que cada vez mais nos desligamos daqueles que como nós são de carne e osso e não possuem um botão que os desliga e/ou liga consoante a vontade do seu utilizador, cada um de nós é único e inigualável.