Pelo clima marchar, marchar

Na passada sexta-feira, milhares de jovens aderiram à greve estudantil mundial pelo clima – “Youth for Climate”.

Inspirados pela jovem sueca de 16 anos Greta Thunberg, entretanto, indicada a Prémio Nobel da Paz, que há oito meses marchou sozinha até ao parlamento da Suécia carregando um cartaz que dizia na sua língua materna “Greve Estudantil pelo Clima” e com panfletos com dados científicos sobre o aquecimento global, um milhão e meio de estudantes de mais de 100 países, incluindo Portugal, fizeram história. Juntaram-se em várias cidades e aderiram ao movimento pela defesa do planeta, exigindo medidas concretas por parte dos respectivos governos para salvaguardar o Mundo em que vivemos e colmatar as alterações climatéricas.

A geração tantas vezes tida como apática e sem rumo consciente, mostrou em massa a sua preocupação com uma das maiores questões do nosso tempo – porque as medidas têm que ser actuais – mas, sobretudo, do tempo futuro, pois são efectivamente as gerações vindouras que sofrerão as maiores consequências das alterações climáticas.

Contudo, esta inquietação com o futuro do nosso planeta já não é de hoje. A primeira Conferência Mundial do Clima a abordar o problema foi organizada pela Organização Meteorológica Mundial em 1979, na Suíça. E há dados científicos desde o século XIX a alertar para as consequências do efeito de estufa.

No entanto, o hype mundial talvez viesse com o polémico documentário de Al Gore de 2006, “Uma Verdade Inconveniente”, que colocou o tema do “aquecimento global” no mapa.

E com o Protocolo de Quioto, a partir de 2008.

Depois disso, houve um boom de medidas “verdes” que se têm vindo progressivamente a acentuar. A redução de emissão de CO2, a reciclagem, a tentativa de limitação dos combustíveis fosseis e dos sacos de plástico, a fiscalidade pró-ambiente….

Mais recentemente, em finais de 2015, é assinado o Acordo de Paris. Um compromisso internacional entre 195 países, entre os quais os EUA e a UE, com o objetivo de minimizar as consequências do aquecimento global até ao final do século.

Contudo, para muitos cientistas ainda não é suficiente. E para os jovens que se manifestaram na sexta-feira também não.

É certo que os que negam a existência do aquecimento global são cada vez menos – o mais célebre e mais importante, dado o cargo que ocupa, é Donald Trump – e concomitantemente, o primeiro passo: a sensibilização para a causa, principalmente a nível europeu, está dado. No entanto, se atentarmos na ausência de meias-estações, no degelo, nas crises de seca, nas tempestades catastróficas, não parece que as acções já realizadas estejam a ser aplicadas, ou pelo menos a surtir algum efeito de monta, face ao avanço das consequências.

Por outro lado, os lobbys anti-medidas pró-clima, motivadas por interesses económicos, nomeadamente as empresas petrolíferas e os países exportadores de petróleo continuam a ser um enorme entrave a nível global à efectivação das medidas.

Com isso em conta, é compreensível o protesto dos jovens, muito embora ele faça mais sentido em uns países do que em outros.

A título de exemplo, dos 195 países signatários do referido Acordo de Paris, apenas 57 (sim), onde se inclui Portugal (sim), estão a executar planos para começar a reduzir as emissões antes de 2030.

Temos uma fiscalidade verde pioneira desde 2014.

E na minha cidade, a Maia (igualmente pioneira), faz-se reciclagem dos resíduos há 20 anos.

Transpondo barreiras físicas, os cidadãos europeus beneficiam de algumas das normas ambientais mais elevadas do Mundo e a política ambiental europeia tem objectivos claros a curto (2020) e médio prazo (2050).

Por isso e não ignorando os problemas supra citados, para mim a valência dos protestos da passada sexta-feira no caso nacional e europeu prende-se mais com a organização, vontade e preocupação demonstrada por aqueles jovens, que deram uma verdadeira lição de não conformismo a todos os que acusavam de política e socialmente indiferentes.

O rosto do movimento Greta Thunberg ainda mais. O facto de referir que os estudantes fazem greve, porque não têm outras opções porque ainda não têm poder de voto, é interessantíssimo e inspirador. E faz-nos perceber porque se tornou a mulher mais influente do ano na Suécia e um dos 25 jovens mais influentes de 2018.

As proporções que o seu movimento tomou dá-nos uma nova e renovada esperança na juventude actual.

Sendo certo e há que dizê-lo, nem todos estariam lá pelo mesmo motivo nobre. Como em todas as greves, muitos houve que viram na manifestação um pretexto para faltar às aulas, para conviver, conhecer novas pessoas, sentirem-se integrados num movimento mundial e tirar umas fotos. É cool ser reivindicativo. Muitos se calhar, se questionados, nem saberiam falar verdadeiramente das causas e consequências do aquecimento global (nesse caso certamente no final da greve aprenderam em conjunto).

Contudo e como disse em 2016 o então secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon que serviu de mote à manifestação, “não existe um plano B, porque não temos um planeta B”. Naquela sexta–feira e em tantas outras antes (e depois), houve um novo alerta. Pois o que é certo é que o Mundo está a mudar. E os nossos jovens a mudar com ele. Neste último caso, ainda bem!

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