Letras no Feminino: Florbela Espanca

A poetisa da charneca alentejana em flor nasceu em Vila-Viçosa, no dia de Nossa Senhora da Conceição, em 1894. O seu nome de baptismo é Flor Bela Lobo, sendo filha de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo. Seu pai, republicano e sapateiro, depressa deixara esta profissão para trabalhar como antiquário e negociante de cabedais. Fora também pintor, fotógrafo e cinematografista. Era casado com Mariana do Carmo Toscano, estéril. Do caso extraconjugal de João com Antónia nasceriam dois filhos ilegítimos: Florbela e Apeles. Embora registados como filhos de pai incógnito, são criados por João Espanca, tendo Mariana do Carmo sido a madrinha de baptismo de ambos. João só reconhecia a sua filha como legítima 18 anos, após a sua morte.

Logo durante a instrução primária, começou a escrever algumas composições poéticas, que assinava como Flor d’Alma da Conceição.

Em 1907, morreu a sua mãe, ano em que Florbela ingressa no Liceu masculino André de Gouveia, em Évora, concluindo-o em 1912. É nesse período que contacta com algumas das grandes obras da literatura mundial, sendo utilizadora da Biblioteca Pública de Évora.

No ano seguinte, casa-se com o seu antigo colega liceal, Alberto de Jesus Silva Moutinho. Habitaram inicialmente uma casa no Redondo, mas, três anos depois, acabam por se mudar para a casa paterna de Florbela, por alegadas dificuldades financeiras, embora acabando por regressar ao Redondo. É nessa altura que começa a seleccionar alguns poemas, numa colectânea de 85 poemas e três contos, que não consegue publicar. Em 1916, inicia a sua carreira jornalística, no suplemento Modas & Bordados, do jornal O Século, e nos jornais eborenses Notícias de Évora e A Voz Pública. Em 1917, regressa a Évora para completar o 11º ano do Curso Complementar de Letras, tendo-se matriculado posteriormente na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Passado um ano, sofreu um aborto involuntário, que teve repercussões na sua saúde, obrigando-a a repousar, escolhendo vila de Olhão para o fazer.

No ano seguinte, edita o seu primeiro livro de Poesia: Livro de Mágoas. Os 200 exemplares esgotaram-se rapidamente.

Em 1920, embora ainda estando casada, Florbela abandona o seu lar, para viver com o alferes de Artilharia da Guarda Republicana António José Marques Guimarães. Em 1920, interrompe o curso de Direito e, no ano seguinte, já divorciada do primeiro marido, casa com António Guimarães, estabelecendo-se no Porto, até à transferência deste para Lisboa, para servir como chefe de gabinete do Ministério do Exército.

A sua actividade poética continua. Publica um poema dedicado a Raul Proença, na revista literária Seara Nova, e publica o seu segundo livro de sonetos: Livro de Sóror Saudade. Começa igualmente a dar aulas particulares de português. Todavia, a nível pessoal, a sua vida sentimental sofre um novo revés, divorciando-se também do seu segundo marido. Nesse mesmo ano, casa com Mário Pereira Lage, médico, com quem privava desde 1921 e coabitava desde 1924. O casal casa em Matosinhos, cidade que os acolhe.

Em 1927, começa a sua colaboração no jornal calipolense D. Nuno e prepara a edição do seu terceiro livro de poemas, Charneca em Flor, e do livro de contos O Dominó Preto, que, no entanto, só seriam publicados postumamente. Nesse mesmo ano, o seu irmão Apeles, de quem era muito próxima, sofre um trágico acidente de aviação, que o vitima, agravando a saúde mental de Florbela, que no ano seguinte tenta o suicídio pela primeira vez. Ainda assim, a sua actividade literária continua. Escreve um conjunto de contos dedicados ao irmão, As máscaras do destino, inicia a escrita do seu diário, corresponde-se com Guido Battelli, professor italiano na Universidade de Coimbra, responsável pela edição de Charneca em Flor, e colaborando na imprensa periódica nacional: Portugal Feminino, Civilização e Primeiro de Janeiro.

A ideia do suicídio não ficara, todavia, para trás. O diagnóstico de um edema pulmonar fá-la tentar cometer o suicídio por outras duas vezes, sendo-lhe fatal a última. Morria em Matosinhos, no dia do seu trigésimo sexto aniversário. Os seus restos mortais repousam, desde 1964, em Vila Viçosa.

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