Comecemos pela mais básica e corriqueira conclusão: afinal, o mundo não acabou. Pelo menos não ainda nos moldes apocalípticos que o cinema já por tantas vezes nos fez antever – e como são grandiosos os juízos finais pintados na tela da sétima arte!
Há-os meteóricos que culminam com a grande explosão, ondas enormes que, de uma assentada só, engolem os Estados Unidos (ou não fosse aquele o país mais vezes retratado como o epicentro da acção) ou a explosão do sol que aniquila toda e qualquer forma de vida no planeta Terra. E há ainda os efeitos do aquecimento global que provocam uma nova era glaciar, depois de muito martirizarem a Humanidade à força de furações, fortes nevões, terramotos e erupções vulcânicas provocadas pelo sobreaquecimento do interior da terra.
Porém, serão as alterações climáticas um episódio da Humanidade cuja realidade promete superar a ficção? Certa vez, Euclides da Cunha, escritor brasileiro do século XIX, disse da realidade “ser sempre mais criativa do que a ficção – o que às vezes lhe falta é elegância”. De facto, nesta que é a nossa realidade, as imagens que nos chegam dos desastres naturais causados pelo aquecimento global (ou pelo menos assim nos dizem os cientistas) são tão-somente a reprodução exacta da mais genuína das crueldades: a impotência humana perante a altivez da Natureza.
Na revista deste ano que agora termina, muitos foram os acontecimentos passíveis de serem dourados pelos pós de prilimpimpim da sétima arte – Michael Phelps tornou-se o atleta mais medalhado na história dos Jogos Olímpicos, o CERN anunciou a descoberta de uma partícula subatómica que poderá ser o Busão de HIggs, Felix Baumgartner tornou-se na primeira pessoa a ultrapassar a barreira do som em queda livre, Barack Obama foi reeleito presidente dos Estados Unidos e pela segunda vez considerado a personalidade do ano pela revista Time. Destes acontecimentos certamente todos nós temos uma ou outra reminiscência do tratamento que os media lhes deram e facilmente conseguimos imaginar um enredo, convenientemente elegante, para ser projectado na grande tela. Mas há também os outros, aqueles que nos vão relembrando o quão irrelevantes são os nossos feitos “heróicos” e ao mesmo tempo nos alertam para o preço que a Natureza nos exige pelas maravilhas da inovação – o preço do desenvolvimento.
Este foi o ano em que, pela primeira vez, o degelo na Gronelândia afectou a quase totalidade do manto de gelo que cobre a sua área, o Furacão Sandy devastou as Caraíbas, Bahamas, Estados Unidos, Bermudas e Canadá, causando forte destruição em várias cidades, cheias no Reino Unido inundaram milhares de casas.
Em Portugal, a agricultura foi fortemente fustigada pela seca que fez de Fevereiro o mês mais seco dos últimos 80 anos, enquanto que, no início de Dezembro, o distrito de Setúbal foi palco de grandes inundações e quedas de árvores provocadas por uma forte tempestade.
Já várias vezes os cientistas fizeram soar o alarme: o aquecimento global está a ser responsável pelo degelo nos pólos e consequente subida do nível médio das águas do mar, o que por sua vez resulta nas alterações climáticas responsáveis pelas intempéries desmesuradas.
Partindo do princípio que todos nós assumimos a nossa quota-parte das actuais 50 gigatoneladas de gases com efeito de estufa (GEE) – 20% mais do que os valores registados em 2000 – e nos mostramos predispostos a (tentar) remediar o mal já feito, o passo seguinte será a adopção das políticas ambientais, correcto?
Bjørn Lomborg, há alguns anos diria, “errado”. Economista e professor de estatística de profissão, este dinamarquês há muito que se dedica ao estudo do impacto do aquecimento global, trazendo à discussão as melhores e mais inteligentes soluções para amenizar as alterações climáticas, a poluição e outros problemas mundiais.
Foi precisamente a busca pela resolução daqueles que considera serem os principais flagelos mundiais, como a malária, a falta de água potável ou o HIV, que Lomborg criou o Centro de Consenso de Copenhaga, um respeitado organismo que reúne os economistas mais importantes do mundo que analisam o custo/benefício de eventuais soluções. Para este auto-proclamado ambientalista, os recursos disponibilizados para as políticas ambientais devem ser canalizados para os problemas imediatos da Humanidade, como a cura da malária ou da SIDA. “Muitas das acções que estão a ser levadas em consideração para travar o aquecimento global, vão custar centenas de biliões de dólares, para além de que são frequentemente baseadas em factores emocionais e não estritamente científicos e, provavelmente, vão ter pouco impacto na temperatura do planeta”, defende.
No livro O Ambientalista Céptico, datado do final da década de 90, Bjørn Lomborg analisa muitas das teorias ambientalistas, investigando os dados nos quais os ambientalistas baseavam as suas previsões de desastre ambiental. A conclusão a que chegou foi a de que o estado da Humanidade e da Terra tinha melhorado gradualmente e de forma notória nos últimos cem anos: muitas doenças foram erradicadas, e o crescente desenvolvimento dos mercados livres no mundo levou a um uso mais eficiente dos recursos naturais. Neste livro, o autor deixa claro que existe espaço para melhoramentos, em muitas áreas, mas a mensagem principal “de que as coisas estão a piorar” está completamente errada.
Lomborg pode até ter razão quando defende que o custo associado ao combate ao aquecimento global é alto de mais quando comparado ao benefício de ter “ter um mundo ligeiramente menos quente no futuro”, mas talvez o melhor seja mesmo evitar remediar: da próxima vez que de nós se abeirar a tentação de fazer de conta que isso da poluição é coisa para alguém resolver, vamos tentar contrariá-la e fazer a nossa parte para que o “fim do mundo” esteja sempre a cargo da ficção.