A dúvida é o princípio da sabedoria.
– Aristóteles
O planeta enfrenta a dura realidade de perceber que a imaginação de cada um pode estar na origem da criação de todo um conjunto de realidades, boas ou más, mas importa perceber que o bom senso tem que prevalecer sempre.
Em face da evolução da Internet, das redes sociais, e toda a vasta rede de sites informativos entretanto nascidos, tudo o que acontece no mundo é divulgado e passado ao público em tempo real, já que todos os dispositivos existentes possibilitam, ou impõem à sociedade e aos cidadãos, que estejam ininterruptamente ligados ao mundo e a tudo o que acontece quase ao segundo.
A revolução tecnológica a que nos vimos expostos nas últimas 4 a 5 décadas obriga-nos a ser muito atentos ao que lemos e ouvimos, e sobretudo devemos manter sempre o discernimento nas nossas leituras, e muita atenção ao que nos é apresentado. A falta de cuidado pode ser o fator mais responsável pela fácil proliferação de notícias falsas.
O dilema que se coloca ao jornalismo sério, porque os jornalistas são sérios, é perceber como pode ser a sua relação com o fenómeno das fake news designação em português, notícias falsas.
Porque existem profissionais muito atentos e, naturalmente, habituados a trabalhar sobre pressão, sabemos ainda que o jornalismo deveria ser sinónimo do exercício de uma atividade de elevado grau de profissionalismo, isenção e verdade, na disponibilização e transmissão da informação para o público.
Sem nunca descurar a importância de que ser jornalista implica não perder de vista o sentido crítico, independentemente do ritmo de trabalho poder ser quase à velocidade da luz, sabemos bem que existe imensa pressão para a notícia na hora, e a divulgação de informação quase no momento em que acontece.
As notícias falsas resultam do aproveitamento que é feito da evidência de todos nós estarmos demasiado embrenhados nas nossas vidas, e nas imensas tarefas que temos que realizar no dia-a-dia, e não prestar a devida atenção quando nos dedicamos à sua leitura.
Numa vida louca em que a rotina é composta de demasiadas tarefas, perdemos por vezes o foco, e com ele a capacidade e até o discernimento de analisar e perceber o que que estamos a ler.
Ao invés de reparar e perceber o que estamos a apreender, os nossos olhos devoram as palavras que estão escritas, sem filtro que permita perceber que algo não está bem contado naquela história que estamos a ler, ou na imagem que vemos.
É gigante o perigo que estas notícias falsas oferece à nossa sociedade, e sobretudo se pensarmos que por trás de toda esta criação de notícias falsas existem pessoas que fazem desta atividade, o seu modo de vida, sem qualquer decoro em enganar as pessoas que irão ler aquelas notícias e/ou ver determinadas fotografias ou imagens.
Por outras palavras, estes “artistas”, porque não podem ser chamados de jornalistas, e a adjetivação destas personagens pode ser complicada de se fazer se quisermos ser autênticos, fazem da sua vida profissional a produção de notícias falsas, em suma promovem informação enganadora para a população, ludibriam aqueles que os leem, e literalmente aproveitam-se daqueles que os sustentam.
A missão do jornalista, porque acredito que os verdadeiros profissionais da área é assim que se sentem, a cumprir uma missão, é muito dificultada por estes “pseudo-jornalistas” que para além de difundirem informação falaciosa, ou mesmo desinformarem, acabam por vezes, por provocar o descrédito do público no jornalismo que se pratica, e em muitas circunstâncias nos verdadeiros jornalistas.
O convívio entre a real e verdadeira informação e as chamadas fake news, ou notícias falsas nem sempre é fácil, mas, infelizmente, esta é uma realidade com a qual temos que aprender a viver. Sobretudo, temos que ser mais atentos e também mais seletivos com os sites, links e outros locais onde habitualmente nos atualizamos sobre as últimas notícias que vão acontecendo pelo mundo.
A sociedade em geral gosta do sensacionalismo e do imediatismo da informação, e muito provavelmente, é nesta base que alguém um dia se lembrou que este poderia ser um bom negócio, o das fake news.
Esta é uma atividade que vende imenso, resulta em muitos “likes” e visualizações das respetivas publicações, e consequentemente dinamiza e promove quem as divulga, ainda que permaneçam na sombra do anonimato e não se lhes conheça o rosto.
Voltamos ao mesmo, necessariamente torna-se urgente que a reflexão prevaleça, mas como em tudo na vida, a mudança tem que acontecer no individuo para depois se refletir na sociedade, não há outra forma.
Temos que ser nós enquanto consumidores da informação divulgada on-line e não só, a não consultar determinados sites, e menos ainda partilhar informação se não tivermos a certeza de que é verdadeira, porque assim sendo, estamos também nós, porque não filtramos o que lemos, a contribuir para a divulgação das chamadas notícias falsas.
E são justamente as partilhas que se sucedem, por vezes sem a prévia confirmação da nossa parte sobre a veracidade das mesmas, que alimentam este tipo de situação. Ou seja, no fundo está nas nossas mãos a disseminação, ou não destas notícias falsas.
Importa ser um elemento atento nesta sociedade de informação digital que é o nosso mundo. Como dizia Aristóteles, “a dúvida é o princípio da sabedoria”, se assim fizermos, ou seja, aprendendo intuitivamente a questionar antecipadamente as notícias que nos apresentam, e não apenas a ler e partilhar o que nos passa diante dos olhos, talvez não fosse tão fácil a proliferação de noticias falsas a que nos vemos expostos nos dias de hoje.