Era uma vez uma floresta tropical

Dizer que a Antárctida teve uma floresta tropical parece utopia, mas não é. A agência AFP confirma que o continente mais meridional do planeta, mas também o mais frio, conheceu, há 50 milhões de anos, um clima tropical, onde qualquer pessoa podia descansar à sombra de uma palmeira.

Depois da descoberta de ossos de tartaruga em 2010, foram encontrados, no fundo do oceano, pólen em forma de fóssil e um cenário rico em fauna e flora, que comprovam a teoria de que, neste deserto polar, já houve biodiversidade animal e vegetal causada por correntes marinhas muito quentes e excesso de dióxido de carbono no ar. Quem o comprova é um grupo de cientistas que, por um interposto projecto internacional de análise de mudanças climáticas, descobriu que, no período Eoceno (entre 48 e 55 milhões de anos atrás), o continente foi abrigo de palmeiras, samambaias, coníferas e faias e palco de temperaturas mais amenas. “Havia florestas e não gelo e as temperaturas eram amenas”, explica Kevin Welsh, paleoclimatologista australiano. Os cientistas perfuraram 5 quilómetros junto à costa oriental do continente, dos quais quatro foram sobre a água e um sobre o solo do fundo do mar, até encontrarem o que lhes permitiu analisar hipotéticos e diferentes climas – o pólen, como parte do Programa Integrado de Perfuração Submarina (IODP).

Neste continente, os ambientes de florestas tropical e de montanha faziam-se acompanhar (mais uma vez detectável pelo pólen) de temperaturas que atingiam os 10ºC no Inverno e os 16 ºC no Verão, não muito diferentes das temperaturas actuais do continente português, que variam entre os 7ºC Norte e 18ºC Litoral-Sul.

Kevin Welsh explica, em declarações à AFP, que o gelo deverá recuar até ao final do século por acções controladas dos governos e maus princípios das pessoas. Os níveis de dióxido de carbono estão a aumentar exponencialmente e sem recuar, o que facilita a reentrada de climas cada vez mais quentes. Se se equacionar este cenário, aliado ao facto incontornável de que a camada de gelo que cobre o leste da Antárctida tem mais de dois quilómetros de espessura, os efeitos podem vir a ser aterradores em todos os continentes. O estudo ao continente do Pólo Sul reuniu uma equipa de 136 profissionais, entre os quais 36 cientistas sob a coordenação de James Bendle, cientista da escocesa Universidade de Glasgow e foi publicado na revista Nature.

“Se a actual emissão de CO2 continuar (com a queima de combustíveis fósseis), a sua concentração na atmosfera alcançará o nível de então em menos de cem anos”, assegura Jörg Pross, especialista em climatologia da Universidade de Frankfurt, à agência AFP.

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