O que há com a democracia?

Cidadãos de nações democráticas no ocidente com menos de 40 anos, provavelmente, não conviveram ou não têm lembrança de um regime político autoritário no seu país. Tampouco sofreu com os horrores das guerras, uma vez que há décadas que não temos conflitos armados em solos ocidentais.

Talvez, o simples facto das pessoas não terem vivido sob governos autocratas, aliado ao desapontamento com os seus governos democráticos envolvidos em mentiras e corrupção, seja a razão para o crescimento de correntes de extrema-direita em muitos desses países.

Conquistas importantes da sociedade ocidental democrática como a liberdade de expressão, igualdade para as pessoas independentemente de sexo, cor ou religião, que não vemos em países autoritários, não são definitivas, precisamos garanti-las diariamente.

Obviamente que não nos podemos submeter aos abusos de governos corruptos em troca dessas garantias, pois, como disse o escritor Vitor Hugo, “entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há certa cumplicidade vergonhosa.”

Porém, temos que ter muito cuidado, quando, através das nossas escolhas, queremos justiça a qualquer preço e enveredamos nessas correntes punitivas e discursos extremamente conservadores.

No livro Como Morrem As Democracias de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, é apontado que “nos dias atuais a democracia não termina com uma ruptura violenta nos moldes de uma revolução ou de um golpe militar, não é mais pelas mãos de generais que as democracias são postas abaixo, mas sim por líderes eleitos – presidentes ou primeiros-ministros que subvertem o próprio processo que os levou ao poder. O retrocesso democrático hoje começa nas urnas e a escalada do autoritarismo se dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas, como o judiciário e a imprensa.”

O caso do jornalista saudita, supostamente morto dentro da embaixada do seu país na Turquia deveria ser um sinal de alerta para todos aqueles que nunca viveram sob um regime opressor e que apoiam ideologias extremistas. Vale a pena lembrar que, de acordo com o Índice de Democracia de 2015 do jornal The Economist, o governo saudita era o sétimo regime mais autoritário do mundo, entre os 167 países avaliados na pesquisa.

Não podemos cruzar os braços ou fechar os olhos para tudo aquilo que está errado, mas não nos enganemos que, dando um passo para trás, conseguiremos dar dois passos para a frente.

Para todos aqueles que defendem a democracia, a lição que precisa de ser tirada é que o discurso tem que ser igual à prática, que os direitos e deveres têm que ser iguais para todos. Afinal, não há democracia onde a corrupção exclui, mata e comete todo o tipo de injustiças.

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