Eu sei que à frente tudo está escuro, mas o meu coração é uma lanterna e tenho fé nos meus passos. No entanto, eles vacilam. Tudo é tão incerto.
Murmuro um até logo. Se disser adeus a sensação é demasiado forte. E a partir do momento que os meus passos sigam o seu caminho, o fenómeno da dúvida manifesta-se numa mão cheia de vontades, de desejos e de sonhos que vislumbro com a certeza de que não há um caminho de volta.
Sei que ao escolher este caminho, quando voltar ao meu país, eu já não serei eu e o meu país já não será o mesmo. Ficarão as recordações, os momentos, as pessoas de quem terei saudades. Quando voltar e apesar da alegria irremediável da volta, tudo o que verei serão sempre vislumbres de nostalgia.
Há alguma beleza nisto. Posso apreender outras artes, outras culturas. Caminhar por ruas que nada têm a ver com as minhas. Capacito-me de uma vida melhor que aqui nunca tive. Na oportunidade de fazer o que aqui nunca consegui realizar.
Se tudo correr bem, quando regressar, estarei de peito aberto, um pouco orgulhoso de tudo o que fiz, porque os meus olhos serão outros e avistam tudo com uma maior imensidão. Se me sentir inseguro, possivelmente fingirei que não sou de cá. Vacilarei, porque no meu inconsciente saberei que também pertenço aqui.
Não há pior sensação do que a de nos sentirmos estrangeiros. Na terra que é nossa e na terra que é deles. Não serei de cá nem serei de lá. Serei de parte alguma.
O medo sussurra-me ao ouvido. Diz-me que o que me disseram pode ser mentira, que quando lá chegar tudo o que me prometeram na realidade não existe. Por isso, quando faltam cinco minutos para partir, apercebo-me que emigrar é como tudo. Que possivelmente é a analogia perfeita de enfrentar o desconhecido. Que nele se encontram todos os medos: a insegurança, a vergonha, a tristeza, a dúvida.
O complemento requer-se inteiro. E desimpeço a vontade de ir em frente. Porque quero melhor, porque não há alternativa. Prendo-me na totalidade à incerteza de um vazio. Sigo em frente.
Para trás ficarás tu, as minhas memórias, a minha infância. Sei de quem deixe uma família inteira. O peito fica triste e vazio.
Avanço, então, passo a passo, que é como farei nos próximos tempos. Para onde viverei com afinco, mas aqui ficará sempre um pouco de mim. Vou, mas não vou inteiro. Tenho a esperança de que ao voltar me traga mais cheio de mim, mais completo.
Junto-me, então, aos que também vão para lá. Às famílias inteiras, aos homens e mulheres que seguem acompanhados ou sozinhos. Os cinco minutos já passaram. Pego na mala. Está na hora. Que a luz da minha lanterna possa brilhar noutro país como a deles.