Em 2 anos… A Cultura sobrevive sem se cultivar

Nestes dias, vive pobre, sozinha e menosprezada a Cultura. Na sombra da crise económica, sobrevive entre a falta de investimento e a falta de interesse. Pode dizer-se que entrou em crise, mas numa crise da qual não se fala, que foi esquecida, ou que, na realidade, nunca foi lembrada.

Em Portugal, o sector da Cultura vive com falta de apoio ao trabalho cultural e artístico e vive sem peso e sem representatividade no seio do Conselho de Ministros. A Cultura nem a ministério tem direito. Já há três anos que o ministério da Cultura foi despromovido a Secretaria de Estado, para que o Estado pudesse poupar cerca de dois milhões de euros. Depois disso, melhores anos não vieram. O que veio foram os constantes cortes no Orçamento para a Cultura.

A falta de investimento é cada vez mais evidente num sector que é capaz de criar riqueza. Afinal, a Cultura constitui um benefício para o país e, para quem ainda tinha dúvidas, o retorno da Capital Europeia da Cultura, em 2012, veio provar isso mesmo.

Há dois anos, Guimarães acolheu mais de 900 espectáculos, combinou o clássico com o contemporâneo e o alternativo. O berço da nação tornou-se no berço da cultura e deu origem a um impacto positivo de 85 milhões de euros no Produto Interno Bruto do nosso país. De acordo com uma equipa da Universidade do Minho, o evento resultou num “lucro” de 3,6 milhões de euros nas contas públicas e na criação de inúmeros postos de trabalho. Além disso, agora, chegam a Guimarães turistas que ficam mais tempo e que gastam mais dinheiro na cidade. Mesmo assim, nem estes resultados fizeram mudar a atitude do Estado.

Contudo, a falta de investimento não é a única causa desta crise cultural. A esta junta-se a falta de interesse. Segundo o inquérito do Eurobarómetro divulgado em Novembro de 2013, os portugueses são dos cidadãos da União Europeia com menores taxas de participação em actividades culturais. Vão cada vez menos ao cinema, quase não vão a bibliotecas, nem visitam museus. Já as idas a espectáculos de teatro, dança, ou ópera também são muito raras. Para além disso, não têm grande interesse por ler um livro. Conclui-se, então, que os portugueses são pouco activos culturalmente.

A crise económica e financeira provoca evidentemente uma quebra no consumo cultural, porque, quando é necessário fazer cortes, o cidadão escolhe, habitualmente, não gastar com a Cultura. No entanto, esta atitude dos portugueses não pode ser unicamente explicada pela existência de uma crise económica. O problema vai muito além disso, porque falta estimular o ensino cultural nas escolas e falta, ainda, olhar para a Cultura como um bem essencial.

A situação não é nova e, apesar de angustiante, não parece incomodar nem os cidadãos, nem aqueles que governam. Ao longo destes dois últimos anos, nada pareceu mudar. Os resultados da Capital Europeia da Cultura tornaram-se em simples resultados, não despertando o interesse pelo investimento no sector da Cultura, mas estes não foram os únicos que não tiveram repercussões. Após a publicação do Eurobarómetro, também não surgiram quaisquer respostas no sentido de alterar a situação.

Em Portugal, apesar de todas as evidências que apontam para a necessidade de mudar, a Cultura continua a ter que sobreviver. A desvalorização e o desinteresse por este sector parece já ser, hoje, uma característica de um país que teima em não se cultivar.

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