Portugal é cada vez mais um país egocêntrico. E não, não estou a falar das pessoas. Falo antes das decisões políticas que, ao invés de serem tomadas no sentido de que o nosso pequeno (mas belo) país seja de todos, fazem com que este seja cada vez mais só de alguns. Cada vez mais se cultiva a famigerada ideia de que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem independentemente dos custos – em todos os aspectos – que isto tem para o país no geral.
A insistência na construção de mais um aeroporto em Lisboa em detrimento de uma melhor gestão de rotas através da exploração das três portas aéreas que Portugal continental tem (Porto, Lisboa e Faro) é disto um bom exemplo. O mesmo tipo de lógica se aplica às várias barras portuárias, onde poderão atracar os famosos cruzeiros que tanto têm contribuído para o crescimento do PIB nacional.
O recente encerramento da delegação da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) do Porto é mais uma das vastas manifestações do ridículo egocentrismo que contribui, e de que maneira, para que situações, por exemplo, como a dos incêndios que assolaram o nosso país este ano sejam uma realidade cada vez mais presente.
Se retiramos serviços das cidades, retiramos também as pessoas que nele trabalham e que vivem nestas mesmas cidades. As pessoas acabam por ter de se deslocar para onde os ditos serviços são deslocados (Lisboa), acabando por abandonar as cidades onde dantes trabalhavam. Por seu turno, em Lisboa a sobrelotação de pessoas, serviços e capitais é hoje em dia uma triste realidade.
Recordo-me de há uns anos largos ter ficado indignado, quando soube que os serviços de Estado que se encontravam no Porto tinham de solicitar a Lisboa a compra de material de escritório. Até um simples punhado de canetas ou lápis tinha de passar sempre, mas sempre, por Lisboa. E, como se não bastasse, este material de escritório era comprado em Lisboa e depois transportado por uma empresa de Lisboa para o Porto. Não me recordo de na altura este tipo de esquema ter beneficiado os cidadãos e, inclusive, o Estado português pelo que me pergunto qual a razão para estarmos de novo a voltar a este tipo de egocentrismo que mais não faz senão destruir, mesmo que lentamente, o nosso Portugal.
Ventania democrática?
Em África, parece que os ventos são – novamente – de mudança.
Em Angola, temos um novo Presidente que parece querer apagar da história angolana todo e qualquer resquício do clã Eduardo dos Santos. Se tal atitude poderá vir a ser positiva, só o tempo o dirá, mas a verdade para quem está longe é que Angola já há muito que precisa de uma tremenda lufada democrática de ar fresco.
Do Zimbabué são muitas as notícias de que o poder eterno de Robert Mugabe parece estar próximo do seu final. Tal como em Angola, o Zimbabué já há muito que precisa de uma tremenda lufada democrática de ar fresco, mas só o tempo nos dirá se tal vai ser mesmo assim e se a transição para o pós-Mugabe vai ser pacífica.