[Falhar | v. Tr. | v. Intr – Faltar à obrigação ou à promessa; Cometer falha, incorrer em erro; Não acontecer o que se esperava.]
Por cada projeto, ideia ou plano que vê a luz do dia, há centenas de outros que foram atirados para o lixo, simplesmente porque falhamos muito mais do que acertamos. Mas se assim é, porque raio nos custa tanto aceitar o falhanço?!
Um conceito simples, humano, natural, mas com tantas implicações. Desde muito cedo, que somos formatados para a procura da perfeição, falhando o menos possível. É óbvio que ninguém escolhe falhar, se tivéssemos opção, certamente que escolheríamos nunca mais passar pela desilusão de um falhanço, mas a verdade é que não temos outra opção senão aceitar e compreender que faz parte do processo de evolução e de crescimento, seja do que for.
Quantas vezes, numa sala de aula, não deixámos de fazer uma pergunta, com medo que seja ridícula ou de nos expormos à falha? Certamente que todos já passámos por isso. Esta pressão pela perfeição, que nos acompanha desde tenra idade e que nos leva ao início de uma espécie de processo de comparação mudo em relação aos outros, às suas vitórias e conquistas. Raramente comparamos falhanços, eventualmente porque quando os identificamos nos outros, associamos-lhes uma leveza completamente diferente do que quando é connosco.
O que só por si sempre foi contraproducente, no mundo atual do oversharing, este hábito de comparação toma proporções completamente absurdas. Através de posts e partilhas, somos “invadidos” diariamente pela vida de amigos, conhecidos e completos desconhecidos. Vemos o lado bonito de cada um, celebramos as vitórias, os dolce far niente e as férias paradisíacas. Mas e as derrotas, que o Instagram não mostra? É aqui que reiniciamos o tal processo comparativo, inconsciente e naturalmente. Assumimos quase como se essas derrotas não existissem, como se os dias do outro lado da tela, fossem sempre cheios de sol e de boa energia… Os dias maus são só os nossos. E aí começamos a sentir a ansiedade e o medo de estarmos a falhar na nossa própria existência.
Esquecemo-nos que muitas dessas imagens são totais fantasias, encenações mais ou menos produzidas, patrocinadas, editadas e manipuladas. Ninguém partilha as falhas. Mas porquê, se falhar é humano? É essencial criar o hábito e o pensamento crítico de desconstruir cada uma dessas imagens. É fundamental compreendermos que somos únicos até nas nossas imperfeições, que temos o nosso próprio percurso, fruto das escolhas que fazemos diariamente e que existe uma profunda diferença entre efetivamente falhar ou sentir que se falha, porque nos espelhamos em algo que não é nosso e que, muitas vezes, nem chega a ser real.
É urgente parar e respirar. Trabalhar a empatia e a generosidade, a começar por nós próprios. Compreender que o único espelho que importa é o nosso, abrir o peito e aceitar a falha ou relativizar o erro. Porque, apesar de ninguém gostar de falhar, é na forma como lidamos com o falhanço que está a aprendizagem e a evolução. Podemos cair, desde que o choro dure apenas um momento e que nos levantemos logo a seguir.