Mudar de vida, através da mudança de país, é deveras complicado. Não significa apenas mudar de casa. Significa também mudar o ‘status’ social, económico, cívico-político e cultural de um indivíduo. É óbvio que ser-se cidadão português em Portugal é muito diferente de o ser noutro pedaço de terreno fora da jurisdição e soberania nacionais.
Socialmente, os imigrantes são, em quase todos os países do mundo, o bode expiatório. Mesmo nos países mais tolerantes, não deixam de ser vistos como integrantes de uma minoria, que, quer se queira, quer não, constitui sempre o grupo dos ‘aliens’, dos estranhos, dos intrusos.
Economicamente, os imigrantes podem ter (e têm, muitos deles) sorte. A mobilidade social é um dos grandes objetivos para quem imigra. “Cá matam-nos o direito a sonhar” é o que se ouve frequentemente. O sonho procura-se lá fora, seja ele americano, ou não. Contudo, a imigração é também feita de sonhos que, muitas vezes, se tornam em pesadelos financeiros, que acorrentam alguns dos nossos concidadãos a dívidas contraídas nessas terras.
Política e civicamente, os imigrantes são discriminados. A terra onde trabalham e pagam impostos é a terra que lhes nega o direito fundamental de um cidadão livre e de pleno direito: o direito de sufrágio. A argumentação é básica. Vive cá e paga impostos cá, mas, se não é nacional, não tem direito a votar. Isto é o que se ouve frequentemente da boca dos defensores desta tribalização da sociedade, dividindo-a entre nós e os ‘outros’.
Culturalmente, os imigrantes são tratados como os ‘Outros’. Sempre vistos como uma minoria, os imigrantes têm sempre grandes dificuldades de assimilação na cultura de destino. Os entraves, que diferem de país para país (nuns mais suaves, noutros mais severos), influenciam a integração de quem muda de casa. A estes mesmos entraves, juntam-se o fim do multiculturalismo no mundo ocidental e a ascensão de organizações ideologicamente alinhadas com políticas xenófobas/racistas, que têm como objectivo vê-los do lado de lá da linha de fronteira.
Todavia, mesmo que os entraves sejam grandes, o homem tem sempre tendência a moldar-se e (re)construir-se continuamente, sendo que a sociedade onde se insere tem influência nesse processo. A identidade de cada um de nós constrói-se, moldando-se em padrões e comportamentos dos grupos sociais em que nos inserimos. Por isso, a cultura de destino tem sempre influência no nosso ser e é parte considerável do mesmo.
O nosso ser é adaptável, ajustando-se habilmente às mudanças. Apesar de a cultura de origem ir-se perdendo, a verdade é que há sempre uma réstia de Portugal naqueles que lá fora fazem a sua vida. Balancear entre as duas culturas (a de origem e a de destino), por vezes, torna-se complicado. A verdade é que o que conta, na minha opinião (eu, que já tive uma experiência na matéria) e na de muitos que lá fora fazem a sua vida, é o sítio onde vivemos. Contudo, é importante também ter sempre na memória o sítio onde nos fizemos homens e mulheres, os valores e as crenças que construíram a nossa personalidade, identidade e carácter.
Há espaço para um balanço entre cultura de origem e cultura de destino? Isso depende de cada um. Lá fora, por um lado, há quem queira esquecer completamente que é português, por outro, há quem tenha especial orgulho em dizer ‘eu sou português’.