“Enterrar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”. Diz-se que foi esta a resposta que o Marques de Pombal, na altura Secretário do Estado do Reino, deu, quando o rei D. José I lhe perguntou o que havia de se fazer depois do Terramoto de 1755, que destruiu a capital portuguesa. Uma resposta simples e directa, mas que foi o início da reconstrução de Lisboa. Para além da reconstrução física da cidade, logo após o desastre, providenciou mantimentos para os bairros que sofreram mais e proibiu qualquer aumento de preços, para não dificultar mais a vida de uma cidade já em ruinas.
Podemos daí concluir que, para além das perdas humanas, dos danos sociais e económicos que os desastres naturais provocam, são também um desafio para quem governa o país atingido, mas, afinal, o que é um desastre?
Segundo a UNDHA (United Nations Department of Humanitarian Affairs), um desastre é “uma interrupção do funcionamento de uma sociedade, causando perdas humanas, materiais ou ambientais, que excedem a capacidade da sociedade afectada de lidar com tais consequências com os seus próprios recursos.” Tsunamis, tempestades, ciclones, inundações, deslizamentos de terra, entre muitos outros. Desastres estes que podem ser naturais, ou causados por actividades antrópicas. Desastres com os quais é quase impossível combater e cujos danos são enormes. Por isso, cada vez mais, os governos, como responsáveis por cuidar do país num determinado período de tempo, são também vistos como responsáveis por responder às necessidades que os desastres provocam.
Julian E. Zelizer, professor de história na Universidade de Princeton, fala sobre o assunto, trazendo dois exemplos: como lidou o actual presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, quando o furacão Irene atingiu os EUA, e a forma como o seu antecessor, George W. Bush, reagiu, quando o estado da Florida foi atingido pelo furacão Andrew, em 1992. Para Zelizer, o primeiro acabou as suas férias mais cedo para tentar ajudar a encontrar uma solução para o desastre, tentando evacuar os estados mais atingidos – Carolina do Norte e Nova Iorque – e dando apoio financeiro e humano. Por seu lado, no mandado de G. Bush, diz Zelizer, depois deste declarar estado de emergência e de prometer ajuda, essa ajuda demorou muitos dias para chegar. Dias, que numa situação destas, são valiosos. Quando a ajuda chegou, a população estava “zangada e triste, culpando a personalidade do presidente pelo que aconteceu”.
Ainda em 1965, quando o estado de Louisiana foi atingido pelo furacão Betsy e o senador do estado, Russell Long, chamou o presidente dos EUA, Lyndon Johnson, para visitá-los, este hesitou, por causa da sua agenda preenchida. Porém, o argumento que o senador lhe deu (“se vier agora, Sr. Presidente, não vão conseguir batê-lo, se Eisehhower concorrer”), convenceu-o. Por isso, tanto por motivos pessoais e humanos, mas também políticos, acabou por ir ver os estragos e, não menos importante, para falar com as pessoas.
Em todos estes casos, os governos conseguiram manter-se firmes nos seus mandatos, ao contrário do que aconteceu no Japão, em 2011. Depois do forte terramoto e do tsunami que afectaram o país, a central nuclear de Fukushima libertou uma grande quantidade de radiação no meio ambiente. Apesar do esforço das autoridades do país, a contaminação alastrou-se até ao Oceano Pacifico. Pouco tempo depois, o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan apresenta a sua demissão. Como este caso revela, os desastres não afectam um só país, não só uma região, já que a radiação poderia ter-se alastrado por vários países, através das marés dos oceanos. Edwin Tuyay, num relatório de UNEP (United Nations Environment Programme) sobre desastres naturais, afirma que são os desastres causados por actividades antrópicas, quer seja por causa de produtos químicos, ou materiais radioactivos, que “têm impactos que transcendem as fronteiras nacionais”. Muitos governos admitiram isso e muitas organizações internacionais falam da necessidade de um esforço internacional para evitar estas situações.
Por essa razão, alguns desastres deram origem a normas, voluntárias ou obrigatórias, que possam prevenir situações semelhantes. Por exemplo, depois dos acidentes em Chernobyl, foram adoptados dois tratados internacionais: a Convenção sobre Assistência no Caso de Acidente Nuclear ou Emergência Radiológica e a Convenção sobre Pronta Notificação de Acidente Nuclear. O mesmo aconteceu com o Protocolo de Quioto, onde os países se comprometem a reduzir a emissão dos gases, que afectam o efeito de estufa, responsável, por exemplo, pelo aquecimento global.
Pouco se pode fazer para prevenir os países dos desastres naturais e, apesar de serem uma “prova de fogo” para os governos dos respetivos países, não nos podemos esquecer de que vivemos num mundo global e de que toda a ajuda é preciosa.