Muito raramente me debruço e reflicto sobre a política em Portugal. Não gosto de o fazer, porque as mentes por cá são tal e qual aquelas velhas máquinas a carvão do século XIX. O pensamento crítico e saudável em Portugal (especialmente na política) demora muito a reagir. E quando reage já é tarde demais. Em Portugal, talvez por uma questão cultural, é muito mais fácil seguir a linha de pensamento dominante (ao estilo bisonte) ao invés de se olhar para o que está realmente mal em vez de se discutir o fútil e se alinhar nos discursos fáceis e falaciosos que ditam Leis nas chamadas redes sociais.
Contudo, o actual momento que todos estamos a viver exige uma reflexão. Já não digo chamada de atenção, pois já há muito que venho dizendo aqui e acolá que isso ia acabar assim e – surpresa ou não – “a procissão ainda vai no adro”.
Em pleno verão, à beira mal plantado com o seu guarda-sol a saborear um rico dia de sol e calor ninguém com poderes de comando no nosso Portugal (mesmo os eleitos democraticamente) tiveram “dois dedos de testa” e meia dúzia de sensatez para preparar o que estamos a passar.
Nada disto. Essa coisa das mortes, das decisões atabalhoadas tomadas em cima dos joelhos, do desespero face ao número crescente de infectados com COVID-19, da ruptura dos serviços de urgência médica e outras coisas tais eram (e pelos vistos continuam a ser) um exclusivo do dito “Terceiro Mundo” e “cowboyadas” made in Donald Trump. Por altura do verão, por cá estava tudo na Paz do Senhor, o turismo era outra vez a “galinha dos ovos de ouro”, havia que respeitar as vontades de quem tem Fé e vontade de ir em peregrinação a Fátima e a Festas ditas vulgos Comícios partidários e, inclusive, a Fórmula 1 estava de volta a Portugal para também ajudar a “alavancar a dita galinha”.
Portanto, nesta altura só mesmo os tolinhos e os chatos do costume que só “falam, falam e falam, mas não dizem nada de jeito” é que vinham chamando a atenção de que o perigo de uma segunda vaga de COVID-19 poderia ser uma realidade. O mesmo tipo de lógica se aplicava, sem apelo nem agravo, às desgraçadas e desgraçados que ousavam chamar à atenção para a exploração barata, mafiosa e recorrente nos Lares de Idosos que exploravam (e exploram) utentes em troca de condições de Vida miseráveis e onde não era surpresa nenhuma a pandemia ser Rainha e Senhora. A mesma chapada levaram, levam e levarão todos aqueles e aquelas que dizem que os Hospitais públicos, completamente descontextualizados da realidade actual, têm falta de pessoal e de meios. E aí de quem ousasse chamar à atenção para locais de trabalho onde a higiene é uma miragem e os distanciamento social uma espécie de “palavrão malcriadão”.
A verdade oficial, essa que tem de ser repetida por tudo e por todos, é que ninguém estava à espera que a segunda vaga da doença viesse tão cedo.
Os disparates ditos pela Sra. Directora da Direcção Geral de Saúde (vulga DGS), a falta de estratégia nacional para se fazer face à pandemia, os surtos de COVID nas escolas públicas que há décadas tem uma falta gritante de meios e de pessoal, a política da máscara na rua e nos espaços fechados por si só que cria uma falsa sensação de segurança, o recolher obrigatório nocturno e nos próximos dois fins-de-semanas, quando os maiores focos de COVID se encontram nos ambientes familiares, as multidões forçadas nos transportes públicos que são escassos para dar uma resposta segura e eficaz ao número de utentes, a recente declaração de estado de emergência que “atropela” a nossa Constituição, porque tudo indicia que não vai ter fim à vista (entre outras coisas) e por aí adiante fazem parte de um dictat que até aqui era apelidado de “negacionista”.
Agora já está tudo a mudar para o “a culpa é tua”… Amanhã já será outra coisa e assim vai de trambolhão em trambolhão até ao trambolhão final.
Agora já todos percebem por que razão eu prefiro mil vezes reflectir e opinar sobre política internacional?
E já agora. Está tudo muito feliz com a derrota de Donald Trump, mas esquecem-se que o dito “trumpismo” não se vai pagar com a saída de Trump da Casa Branca. E esperem para ver o que o “moderado” Joe Biden vai fazer… Coisa boa não vai ser até porque já dizia um amigo meu, quando se deu o pontapé de saía das eleições norte americanas: “Vai começar a escolha entre um homem mau e outro menos mau. Tragam as pipocas”.