Vamos então falar de coisas sérias?

Confesso que já há muito que deixei de opinar sobre a política portuguesa. Não que não hajam temas de interesse no foro interno do nosso país político, mas, sim, porque, citando a nossa cronista Angelina Lima que escreveu o seguinte no seu último artigo de opinião publicado no passado dia 19 de Junho no site Noticias Maia:

Os exercícios de retórica são mais valorizados do que a mensagem. Esta por sua vez não é ouvida se não for apresentada através de uma bela oratória. E são tão raros os que conseguem conciliar ambos. Muitos apontam direcções. Tão poucos sabem o caminho… Na verdade os que mais apontam são os que menos sabem. É assim desde o princípio dos tempos. O “só sei que nada sei” como principio para a busca incessante pelo conhecimento está a cair em desuso. Nos primórdios a “Verdade” era vista como inalcançável, agora todos são donos dela.

Um bom e recente exemplo disto mesmo é o tremendo, desnecessário e, objectiva e maldosamente, degatante e turbulento debate em torno da – mais do que necessária – reforma da Lei de Bases da Saúde em Portugal. Baixeza de discurso político, guerras e «guerrinhas» por tudo e por nada, ideologias em riste e outras coisas tais atropelam, sem dó nem piedade, a necessária racionalização de um problema que já deveria ter sido resolvido há muito tempo. Tal forma de estar  é, efectivamente, a demonstração cabal, clara e inequívoca de que em Portugal não vale a pena falar de política. Quanto mais debater e opinar sobre a dita cuja…

Agora imaginem o que seria colocar no meio deste enfadonho e – já – cansativo cenário a possibilidade de a eutanásia poder, um dia, vir a ser uma realidade jurídica em Portugal.

Trata-se, sem margem de dúvida, de uma temática muito séria que a ser uma realidade traria à nossa Sociedade a real imagem de desenvolvimento e cariz humano dado que o processo da eutanásia é (ao contrário do discurso bacoco de quem é contra tal somente porque sim), o maior gesto de desenvolvimento e de humanidade que alguma vez podemos ter para com alguém que face as circunstâncias físicas e psicológicas decide colocar fim à sua Vida de uma forma tranquila e o mais carinhosa possível para si e para todos os seus familiares e amigos próximos.

No entanto, pedir tal em Portugal é o mesmo que pedir a uma parede que saia do nosso caminho.

Em Portugal, nada se debate. Tudo se discute. E a maioria do Povo, em vez de exigir que isto mude, pois é o futuro da nossa Sociedade e Nação que estão em jogo, prefere antes entreter-se com meias verdades como, por exemplo, a questão da isenção das taxas moderadoras do Serviço Nacional de Saúde… Como se o problema de tal Serviço resida, única e exclusivamente, no valor das tais Taxas.

Vamos, então, falar de coisas sérias?

Confesso que bem que queria – e quero – fazer tal, mas lamentavelmente apenas o posso fazer quando o assunto em cima da mesa é externo. Já quando a questão é do foro interno e do nosso cabal interesse desisto de o fazer. Não adianta falar, quando  todos preferem berrar.

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