Professores

Ninguém nasce ensinado. Esta é uma frase que se ouve com muito frequência. O conhecimento não é um órgão que venha acoplado ao corpo e por isso precisa de ser ginasticado, tal como o cérebro. Para que funcione deve ser adquirido em pequenas porções para que surta o efeito pretendido.

Brincar é essencial. É o tempo dos jogos, das criações, das vidas inventadas e dos desejos de futuro. Em criança tudo é permitido e fácil. O espírito rebelde do adolescente leva às revoluções e essas nem sempre são com sangue, suor e lágrimas. Mudar é sempre complicado.

Durante estes espaços de tempo, que são longos e complexos, a aprendizagem é o motor. Tudo fica interiorizado e certos ensinamentos começam a desenvolver a bola de neve que irá continuar até ao final da vida. Aprender é para sempre.

O primeiro professor que nos é ofertado é o progenitor mais próximo que costuma ser a mãe. É a relação privilegiada que leva o bebé a sentir-se acolhido e bem cuidado. No entanto todos os restantes membros da família estão a soltar os seus saberes que ficam acumulados.

Depois as brincadeiras são a escola da infância e que preparam para a outra, a escola convencional onde se aprende a ler e escrever, a contar e raciocinar. É o local onde tudo pode acontecer. O currículo formal é apenas uma parte, pois o informal e o oculto ganham terreno e velocidade. Saber estar com os seus pares e gerir conflitos não é fácil.

Agora surgem os professores, os convencionais, os que se esquecem de ser adultos e voltam a ser pequeninos. São eles que dão a mão, que se sentam ao lado dos que vão caminhar para a vida que os chama. Os primeiros são os educadores, os que ensinam a sentar e falar, os que sabem como brincar.

Depois chegam os que mostram como as letras e os números também servem para se deliciar, como se juntam e fazem jogos que servem para se ir mudando. São os de paciência infinita e que deixam a porta aberta do saber. E que bom é saber ler e contar para depois se saber como utilizar. É uma maravilha quando se junta tudo e já se pode ler, escrever, contar e desenhar.

A seguir vem o desfile de caras e de disciplinas que entesouram os que sabem como aproveitar. São muitos os que ajudam a formar os futuros cidadãos. Todos têm o seu valor e são todos importantes. Uns cativam mais do que os outros, mas a função é a mesma. Há que os ouvir e respeitar.

Quem não tem uma recordação agradável de um professor? Quem não sente uma doce nostalgia quando se refere a ele/ela? Quantos não souberam escutar os sábios e úteis conselhos sobre a vida prática? Quantos não recordam com saudade esses tempos? Quantos gostariam de regressar a esse convívio?

Agora a questão que se coloca é quantos é que querem ser professores, quais são os que percebem que ensinar é uma vocação que molda gente que precisa de ser bem guiada e orientada? Poucos. Os professores ainda estão colocados no local onde podem receber pedras e ser insultados quando deveria ser o seu oposto.

Ser professor neste país ainda é sinónimo de saltimbanco, de uma espécie de cigano que não fica às portas, mas que deambula pelas várias localidades. Alguém que só quer incomodar os mais jovens e não os deixa continuar a viver na terra do sonho contínuo. É tão triste ver encarregados de educação que enxovalham e humilham quem quer que os seus educandos sejam gente.

Nunca consegui entender a forma de colocação dos docentes. É um dos mistérios que me intriga, assim como os camiões de palha que circulam nas estradas. Por que raio é que os animais do Norte têm de comer a palha do Sul e vice-versa? Será uma questão de ficar mais arejada? Não me faz sentido.

A classe dos professores está pelas ruas da amargura, mas não existem inocentes. Há culpas de parte a parte e a prova é que também existem docentes que se dedicam à causa e outros tanto lhes dá se for para cima ou para baixo. Está errado. São eles que, com ou sem santa paciência, repetem milhentas vezes o mesmo até que se aprendido. São eles que passam a mensagem da continuidade.

No entanto ninguém lhes quer vestir a pele. Sabem que a tarefa é dura e complexa e que os alunos, gente pequena que vai crescendo e sabe que é terrível com quem lhes quer incutir algo, são pequenos bandidos que pensam que os seus crimes não serão nunca punidos. Ser jovem é sinal de irreverência e de alguma maldade que pode persistir.

Quem irá assegurar o conhecimento nas novas gerações? Escravos? Robots? Máquinas? Quem? Todos somos um pouco professores, aceitamos os legados e queremos que estes sejam ofertados aos vindouros. Uma mãe que embala o filho sabe como a ligação entre os dois é de grande valor. Por isso quem ensina é uma supermãe, ou um superpai, que quer garantir que os seus filhos, os pequenos seres que ainda não sabem caminhar sozinhos, consigam abrir as asas e voar.

Quem salva os que, teimosos e determinados, ainda querem ensinar?

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