Big Boss: Pais ou Filhos?

De que forma a evolução tecnológica, tão acelerada, está a deixar os pais à mercê dos filhos, uma vez que têm dificuldades em acompanhar esta mesma evolução?

Os dias correm a um ritmo supersónico.

A vida não é mais vida, incapaz de acompanhar esta “velocidade de luz”, brutalmente acelerada para que se possa assimilar o tempo. Acredito que não são as tecnologias as responsáveis pela questão que se coloca: de que forma a evolução tecnológica, tão acelerada, está a deixar os pais à mercê dos filhos, uma vez que têm dificuldades em acompanhar esta mesma evolução?

Ou, que as dificuldades sejam do âmbito tecnológico para quem nasceu antes deste tempo, em que a IA venha acoplada aos cérebros das novas gerações. E, o nosso cérebro, quer se queira, quer não, anda a um ritmo mais lento. Para se entender isso, é necessário, ir lá muito atrás no tempo. Na medida em que a tecnologia evolui, uma “viragem digital irreversível, implicando nas crianças e adolescentes, indivíduos psicologicamente mais frágeis, com o risco de se fecharem em si próprios, «há que recorrer à “escola da palavra” tornando-se “urgente enquanto escola da racionalidade e da linguagem, que contrapõe o pensamento lento, o pensamento da reflexão, ao pensamento rápido, irremediavelmente ligado ao consumismo e à perspectiva simplista acerca do mundo.» (Lamberto Maffei, Elogio da Palavra)

O que se pode fazer? Como reverter esta situação, em que pais deixaram de saber educar para se permitirem a serem anulados perante as atitudes dos filhos. Nada tem de tecnológico ou de inteligência artificial.

É óbvio que esta não é a temática que se pretende desenvolver, mas parece ser esta a razão para que existam dificuldades em acompanhar a evolução das tecnologias que, agora, são o centro de tudo.

O psicólogo Eduardo de Sá refere, na sua página de Instagram:

“O consumo continuado de ecrãs e de telemóveis, em particular, torna os adolescentes menos capazes de ser atentos. Mais impacientes. Mais sensíveis ao aborrecimento. Mais irascíveis. E mais impulsivos. O acesso precoce e sem restrições a redes sociais faz com que eles sejam expostos a conteúdos de uma toxicidade perigosa. Que os leva a assumirem exposições de privacidade, desafios e causas que faz com que, sobretudo, para os mais frágeis os telemóveis se tornem adversários poderosos da saúde mental.

Os adolescentes precisam da atenção dos pais em relação aos “amigos digitais”, aos sítios e aos conteúdos a que acedem. Precisam de refeições sem telemóveis. E de pais a darem-lhes o exemplo de uso sensato desse bem.”

Porque, afinal, é isso que se trata. Tecnologia = material de consumo versus bem de necessidade básica? Em que ficamos?

Com esta realidade em mente, não há forma de separar esta questão da inicial, uma vez que não é a “incapacidade” dos pais para o uso das tecnologias a responsável para ficarem aquém do que se considera “evolução” ou, aptidão inacta dos filhos para as mesmas, natural consequência em relação às circunstâncias tempo-espacial, de uns em relação a outros.

De um ponto de vista artificial, não há inteligência que se sobreponha a esta irracionalidade de coisas. Sendo que na maior parte, não é compreensível, a olho nu, racionalizar sobre a forma como se educam os filhos de outros. Principalmente, se o autor do conteúdo não os tem, marginalizando-se e sendo marginalizado por, pura e simplesmente, não ter “voto na matéria”.

Outra questão interessante, sendo que a própria sociedade, na qualidade de pai e mãe, ignora o conceito de educação visado por aqueles e aquelas que, em última estância, nunca se viram no papel de parentais e  que lhes dá o direito de opinar sobre o modo como pais ficam à mercê dos seus filhos, apenas e simplesmente, porque são mais “evoluídos tecnologicamente”.

Porém, acredito na palavra e é ela que nos distingue das outras espécies.

“A linguagem está na origem do aparecimento da racionalidade, graças à qual tentamos relacionar os factos com as suas causas e produzir generalizações úteis, em vez de activarmos reacções velozes e imediatas.”

E, não sou eu que afirmo simplesmente.

“A poderosa e fascinante instrumentação do mundo digital está em progresso contínuo e é de tal forma invasiva, sobretudo no mundo dos jovens, que ocupa os seus interesses e o seu tempo a ponto de os distrair da educação escolar tradicional. Isso levanta o problema das razões que causam esta situação ou, como diria um médico, a questão da etiologia, do diagnóstico e das possíveis prescrições terapêuticas.”

Os dias são noite, as semanas meses e as estações do ano deixam de existir, de tão acelerados estão os relógios biológicos das novas gerações, sem possibilidade para o erro. Sem capacidade para entender. Sem oportunidade para saber viver. E, quando o verbo questiona os dois pratos duma balança virtualmente social, há que ser mais do que observador e, mais além, ser apenas filhos ou pais.

Nota de rodapé: Aconteceu uma coisa interessante. Quando vou submeter este texto para a página do Repórter Sombra, não consigo. Isto pelas alterações de base à “raiz quadrada da coisa tecnológica”, que eu não entendo (precisando sempre de esquematização) e, que talvez as mais novas gerações facilmente se integrem. Esta nota serve apenas para afirmar que, estamos sempre em aprendizagem e, trabalhar em conjunto (perguntar, sem medo de mostrar que não se sabe), uma mais valia para ambas as gerações. Nem sempre com empatia mútua ou disponibilidade imediata. Mas, com um objectivo em mente. Manter activo o pensar neste RS.

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