Atlanta: a crítica assertiva por detrás do humor exprimental

Donald Glover, também conhecido como Childish Gambino, chega ao “pequeno ecrã”, para dirigir a sua própria série: “Atlanta”.

Depois de revelar o seu potencial como ator na série “Community”, com a personagem Troy, Donald Glover transcende novamente a sua carreira no hip-hop, mostrando-nos o que uma série/TV show pode realmente ser.

“Atlanta” acompanha a vida de Earnest “Earn” Marks (Donald Glover) que decide apostar na carreira musical do seu primo Alfred (Brian Tyree Henry), também conhecido como Paper Boi, tornando-se o seu manager.

Através do retrato da cultura hip-hop que a série nos mostra, somos confrontados com diversas situações de estigma, preconceito, racismo estrutural, violência policial, apropriação cultural e transfobia, pelo lugar que as próprias personagens ocupam na sociedade.

No entanto, esta série revela-se extremamente inteligente na forma como nos apresenta estes temas. Sem deixar que a ferida sangue demasiado, através do humor experimental e de um certo surrealismo, “Atlanta” não deixa de tocar nas brechas que a sociedade tenta omitir ou “fingir” que estão saradas, quando claramente não estão.

Desta forma, mesmo quando nos deparamos com as situações mais surreais na série, é evidente que este surrealismo serve a própria realidade, o que nos leva a reconsiderar a forma como pensamos, como falamos e como tratamos estes assuntos.

A própria cidade de Atlanta, capital do estado da Geórgia, torna-se uma personagem, ao carregar todos os retratos e situações que aqui vão sendo explorados e testemunhados. 

Um dos aspectos mais interessantes desta série acaba por ser igualmente a profunda relação à cultura hip-hop. Não só assistimos aos bastidores de todo o processo musical, a que geralmente os fãs não têm acesso, como através da personagem Paper Boi testemunhamos o que significa ser rapper hoje em dia e o ‘papel’ estereotipado a que a personagem se recusa, pagando consequências por isso. 

Em Alfred, não vemos o glamour dos videoclips habituais da cultura hip-hop, não vemos a ostentação desmesurada, nem as atitudes de luxúria que geralmente estão associadas a este tipo de artistas. Vemos sim, um retrato real de alguém que procura vingar neste meio sem abdicar da sua própria personalidade, valores e raízes e que, por isto, parece ser condenado.

À parte da já reconhecida atuação de Donald Glover , “Atlanta” conta com um elenco que faz jus à série, desde o já referido Brian Tyree Henry a LaKeith Lee Stanfield e Zazie Beetz

Para além do elenco fixo, presente ao longo de toda a série, são vários os episódios que contam com participações esporádicas que a valorizam bastante, como Migos, Lloyd e Lil’ Zane.

Para quem é fã de rap (e de música), a série torna-se ainda mais notável pela banda sonora que apresenta OJ Da Juiceman, Kodak Black, Michael Kiwanuka, 21 Savage, Stevie Wonder, Bill Whiters, entre outros. 

Em suma, esta é uma série completamente original, inteligente, cómica e dramática ao mesmo tempo, combinando a realidade e o surrealismo de forma a tornar tão subtil quanto necessária a abordagem a determinados temas.

Ainda é incerto se esta série, que já conta com 2 temporadas desde 2016 no canal FX, vai ter direito a uma 3ª temporada. Esperemos que sim, pois são séries como “Atlanta” que nos ensinam o que um TV show pode (e deve) realmente ser.

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