“À Porta da Eternidade” deixa o espectador sem palavras. É tão poético como transformador. Não dá tudo ao público, deixa-o desconfortável com requinte. Eterniza os suspiros de incerteza em conforto intelectual. “Os pintores são todos loucos? Não, só os bons“, responde Van Gogh com a sua mente brilhante e ousada.
Restam muito poucas palavras depois de ver esta obra-prima. Realço o termo. E o que era, afinal, uma obra-prima para o mestre Van Gogh? Tudo aquilo que estivesse em harmonia com a Natureza, porque, tal como frisou várias vezes ao longo do filme.
Quero mostrar ao mundo a forma como o vejo, usufruir e respeitar o dom que Deus me deu.
Pouco aclamado e com um final de vida na miséria, a depender quase totalmente do irmão financeiramente, começou, mais para o fim, a não se importar com o que os outros pensavam. Pintava de forma a ser feliz: a, naquele momento, conseguir não pensar; conseguir sentir tudo de todas as maneiras, ao jeito de Álvaro de Campos. Van Gogh dizia que “um bom pintor pinta depressa com movimentos deliberados“. Ou seja, segundo ele, um artista deve deixar fluir o seu talento e a sua irracionalidade ciente daquilo que quer mostrar ou contar, cego pela essência de eternizar tudo aquilo que importa no seu mundo. “At Eternity’s Gate”, Van Gogh pinta a Natureza, porque “a essência de tudo é a Natureza, e a Natureza é a beleza do mundo“.
Willem Dafoe faz jus a uma mente absolutamente brilhante, com um carácter intimista, emotivo, emocionalmente genuíno, sublime na forma – e, claro, eterno no conteúdo. Que este filme fique, simplesmente, à porta da eternidade dos espectadores.