As opiniões dividem-se no assunto que parece não ter consenso. Qual é melhor, o livro ou o filme?
A dita e redita frase “Mas não está como no livro” é das coisas mais aborrecidas de se ouvir, quando se vai ao cinema. No entanto, nunca deixamos de comparar uma obra a outra. Livros e filmes são muito diferentes e, por isso, as suas adaptações também. No primeiro, a imaginação não tem limites, já no segundo existem outros aspetos a considerar (orçamento, disponibilidade…). Se fossemos a seguir à letra tudo o que acontece no livro, provavelmente o filme demoraria 10 horas a terminar, o que seria demasiado maçador.
O Museu do Livro Sebo retratou bem esta situação. Numa exposição, desenvolveram um conceito interessante, onde colocaram o livro original recortado em forma de DVD, a representar o filme. Concluímos que apenas 1/3 das páginas escritas eram adaptadas à grande tela. Essa é uma das maiores vantagens da literatura, o seu detalhe descritivo faz-nos compreender melhor a história e as personagens.
“No livro não foi assim”. Pois não, mas isso é porque o cinema funciona de outra maneira, com uma história mais compactada. Existe mais ação, música e mais pormenor no cenário. Na trilogia do Senhor dos Anéis, baseados na obra de J.R.R. Tolkien, através dos efeitos especiais conseguimos ver as paisagens lindíssimas que constituem a Idade Média que de outra maneira não era possível.
Apesar das suas fricções, a sexta e a sétima arte funcionam bem em conjunto. Enquanto o livro fornece a narrativa, o cinema faculta a publicidade e mais lucros. Sagas como Hunger Games, Twilight e Divergente não tinham o sucesso que tiveram num público mais jovem, se não fossem adaptadas ao grande ecrã. Tudo é um negócio. No entanto, o contrário também já aconteceu, a saga Harry Potter escrita por J.K. Rowling incentivou as crianças e adultos à leitura, tornando-se num fenómeno à escala mundial, e os filmes do feiticeiro ajudaram ao sucesso.
Em Hollywood, na entrega dos Óscares existe uma categoria para Melhor Argumento Adaptado. E faz todo o sentido. Se eu estivesse aqui a enumerar todos os livros que se tornaram filme, provavelmente não saia daqui hoje. Em primeiro lugar do pódio, o escritor que mais obras tem adaptadas William Shakespeare (320 filmes), seguindo-se de Edgar Wallace (170 filmes) e o terceiro lugar pertence a Alexandre Dumas (128 filmes). Mais recentemente é Stephen King que está na linha da frente com 57 filmes. Mestre dos mistérios, criou filmes como Carrie, The Shawshank Redemption, Á Espera de um Milagre e Shining. A seguir é Nicholas Sparks que ocupa o lugar, com 11 filmes adaptados. Rei dos romances, ajudou a produzir Diário da nossa paixão, Um amor para recordar.
Seguindo a frase do misterioso J. W. Eagan, “Never judge a book by it’s movie”, na minha opinião devemos sempre ler antes o livro, pois explora melhor o mundo ficcional, conseguem levar a nossa mente para outro universo. A história é apresentada à nossa maneira. Depois assistimos ao filme, mas disfarçando o nosso conhecimento. Aí tudo o que imaginamos torna-se real, mas isto não quer dizer que os livros sejam melhores do que o filme. Não. Existem exceções à regra. Filmes como O Silêncio dos Inocentes, O Padrinho, O Clube de Combate, Tubarões, tornaram-se obras autónomas e deixaram de ser conhecidos pelo seu livro.
Concluindo, a dúvida persiste sobre qual é o melhor: livros, ou cinema. Não há resposta certa. Ao ler um livro interpretamos ao nosso jeito, quanto ao filme a responsabilidade na escolha das cenas mais importantes é do realizador. São duas maneiras diferentes de conhecer a mesma história.
“It is invariably saddening to look through new eyes at things upon which you have expended your own powers of adjustment.”
F. Scott Fitzgerald, The Great Gatsby (o livro e o filme)