“A descoberta de um novo prato é mais benéfica para a humanidade do que a descoberta de uma estrela.” – In Physiologie du Goût, de Jean Anthelme Brillat-Savarin, um célebre gastrónomo francês
A Francesinha é um prato típico da gastronomia portuguesa, que desperta paixões avassaladoras ou desdém absoluto. É, sem dúvida, um símbolo incontornável da nossa história gastronómica, especialmente no norte do país, na cidade do Porto.
Considerada por muitos, como um “monumento” gastronómico de origens ancestrais, a Francesinha parece ter-se instalado profundamente no coração dos portugueses e, sobretudo, no estômago e boa mesa tradicional.
A história da Francesinha remonta à década de 1960, quando Daniel da Silva, um emigrante português regressado de França, decidiu adaptar a receita do célebre croque-monsieur (sanduíche francesa de queijo e presunto) ao paladar português. E como resultado, instalou-se uma tradição que se traduz numa combinação ousada e robusta que une pão, fiambre, bife, queijo derretido e, claro, o célebre molho secreto, cuja receita varia entre chefs e restaurantes.
Mais do que um simples prato, a Francesinha transformou-se numa experiência gastronómica. O molho, frequentemente picante e complexo, é o elemento diferenciador que eleva este prato a um estatuto extraordinário.
A Francesinha representa um encontro entre a tradição portuguesa de ingredientes abundantes e sabores intensos, e a ousadia de uma adaptação internacional. Ao longo do tempo, este prato ultrapassou as fronteiras do Porto, conquistando um espaço privilegiado em menus de degustação por todo o país.
Contudo, é preciso reconhecer que a Francesinha não é um prato que reúna consensos – adora-se ou detesta-se. No meu caso, não sou uma apreciadora deste prato que já tive a oportunidade de experimentar em duas partes distintas do Norte: no Porto e em Braga e a experiência foi diferente na confeção do prato e, é claro, na preparação do molho típico.
Não posso dizer que sou fã, nem que detesto o prato, simplesmente não vai ao encontro do meu gosto por pratos mais diversificados e ricos em ingredientes que temos na nossa gastronomia.
A natureza calórica, a complexidade da preparação e até a sua “pesada” presença à mesa tornam a Francesinha uma escolha que diria polarizadora.
Falar deste prato, significa falar da cidade do Porto, é um dos seus cartões de visita gastronómicos e, para quem percorre a cidade, resiste dificilmente a não provar esta iguaria.
Nos últimos anos, este prato tem evoluído, com uma versão inclusivamente vegetariana, com marisco e até uma versão própria reinterpretada por chefs conhecidos da alta cozinha.
A Francesinha, para além do prato típico do Norte, revela-se como uma experiência social, de partilha entre pessoas, na degustação de sabores em comunidade com uma boa cerveja a acompanhar.
Este prato envolve algumas desvantagens que não podemos deixar de atender: o alto teor calórico não é aconselhável para quem procura uma dieta e alimentação mais equilibradas, alguma dificuldade técnica na preparação do prato que exige tempo, técnica na confeção e, sobretudo o segredo num molho bem conseguido e, por último é visto como um prato pesado e até indigesto. Não é um prato para todos os dias, mas uma experiência gastronómica pontual.
Se analisarmos bem, a Francesinha não se trata apenas de um prato; é um símbolo de uma cidade e de uma cultura. Para alguns, eu diria que é um prazer culposo; para outros, um verdadeiro risco às artérias.
Contudo, é impossível negar-lhe o lugar de destaque na gastronomia portuguesa.
Seja como estrela principal de um almoço demorado num domingo chuvoso ou como experiência social e gastronómica quase obrigatória para um turista curioso, a Francesinha continua a marcar presença, quer em Portugal, quer no mundo.
Goste-se ou não, ela veio para ficar na nossa história e na história dos povos.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico”.