As amizades no trabalho são reais ou oportunistas?

Apesar dos tempos evoluírem, há certos comportamentos padrão, enquanto sociedade que persistem. É muito comum ouvirmos os outros a desdenhar da empresa onde trabalham, geralmente por dois motivos, pela gestão desta e pelo ambiente proporcionado pelos colegas.

Como ponto de partida deste artigo, irei responder ao facto da pergunta em si precisar ser colocada. Esta questão coloca-se pela competitividade que todos acreditam ser constante para as pessoas que trabalham na mesma profissão e com o mesmo objetivo. Isto porque todos fazem constantes comparações em momentos tanto de elogio, como de crítica, em todos os setores. Não é inclusive só os outros que fazem essas comparações, nós também nos inspiramos e comparamos constantemente o nosso trabalho e resultados com o do outro. Isso tem a ver com um processo demasiado enraizado que acontece desde a infância, as comparações que fazem nas crianças durante o seu processo de aprendizagem.

Talvez a diferença para ter um amigo ou inimigo no trabalho seja essa, não alimentar essa comparação de forma negativa e invejosa e sim como um reforço para também se achar capaz. É muito difícil, sim, quando duas pessoas estão a concorrer para uma promoção na sua carreira, haver uma amizade genuína, porque aí a competitividade é colocada ao mais alto nível. A pessoa que fica de fora tem que ter uma estabilidade e segurança emocional muito forte para acreditar que ela não é mais fraca, simplesmente não está tão adequada para o cargo. Muito provavelmente essa pessoa tem valências que a selecionada não tem, simplesmente elas não tinham tanta relevância para as funções que serão necessárias exercer. Neste ponto nem vale a pena falar sobre as ditas “cunhas”, porque há partida, as pessoas que entram nessa rede de contactos por interesse, nunca estão importadas em ter amizades que não lhes possam trazer vantagens, muito pelo contrário.

Contudo, na prática, o que precisa acontecer para duas pessoas que trabalham na mesma empresa serem amigas? Ambas têm que ter o mesmo tipo de rigor, consciência e profissionalismo no trabalho. Dessa maneira não só é possível fazer amizades no trabalho, como ter algo muito solidário, que se ajudam em dias difíceis e que sejam um grande apoio. Precisam ambas de não deixar espaço para que se acusem, que sintam que trabalham na mesma medida. Se para um gerente é difícil ver um funcionário que não se esforça, para o funcionário que tem uma postura exemplar é pior ainda, porque muito provavelmente eles têm até o mesmo salário e não lhe cabe a ele a possibilidade de o despedir.

É mais fácil, sim, ter amizades fora do nosso contexto, em que nós sintamos que o nosso círculo de amigos, pelas nossas áreas diferentes, não nos conseguem comparar. Todos sabemos que os nossos amigos e conhecidos vão avaliar quem é mais bem-sucedido. No entanto, dando o exemplo das artes do espetáculo, uns podem ser melhores atores dentro do drama, outros da comédia, esse espírito de competitividade de “ser o melhor em tudo” é um puro desperdício de tempo e energia. No caso do futebol, podemos até fazer malabarismos entre eficácia e eficiência, talvez o jogador A possa ter marcado mais golos, mas o jogador B é mais rápido e finta melhor. Tudo aqui vai um pouco se nós conseguimos ser pessoas pacificas e não deixarmos que as inseguranças que batem constantemente tomem conta de nós. Quem tem irmãos, por exemplo, vai trabalhando isso desde sempre, mesmo que haja um deles que fique mais no foco dos elogios, avaliando com calma e ao pormenor, os outros têm sempre algo que não é tão valorizado, mas é super ou mais importante.

Se nós conseguirmos ser essas pessoas que estão equilibradas nesse sentido, de que todos temos algo de diferente e especial, estamos com a tranquilidade que é necessária para ter amigos tanto no trabalho, como fora dele.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico

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