Quando em Outubro de 2016 a academia sueca resolve atribuir o prémio Nobel de Literatura a Bob Dylan, a polémica instalou-se. Contudo, que melhor forma de despertar as mentes para a literatura senão através de uma boa polémica?
Bob Dylan, que escreveu os primeiros poemas aos dez anos de idade, aprendeu a tocar guitarra e piano sozinho (em tempos onde não se imaginava sequer a existência do Youtube), e músico toda a vida, recebe o prémio sem meios de comunicação à mistura.
A instituição fortíssima literária que a Academia Nobel representa, na entrega do mais galardoado prémio literário existente desde 1901 (e que sim, falhou muito e muitas vezes por desdém a muitos escritores), abre precedentes na entrega de um prémio literário a um músico, alegando que a escolha recai a Bob Dylan por “ter criado novas formas de expressão poética no quadro da grande tradição da música americana”.
Mas porquê tanto alarido? Poderíamos explorar o campo mais do que estudado da famosa questão “O que é a Arte?” ou “O que é a Literatura?”. Ou ainda, quais os porquês da prestigiada academia sueca que já galardoou os inigualáveis Pablo Neruda, Joh Steinbeck e Patti Smith, entre outros, escolher desta vez as palavras de um músico.
No entanto, há que relembrar que o Nobel da Literatura nomeia acima de tudo o simbolismo, a obra e toda a filosofia de um artista. O seu impacto nos outros. E Dylan simboliza, acima de tudo, a contracultura de uma América clean, perfeita e senhora do mundo.
A sua poesia suja, directa, que lima arestas e chama as coisas pelos nomes (e que ainda pode vir acompanhada de boa música), afirma por si só que a arte quebra paradigmas e que também é muito boa quando várias formas de expressão se misturam.
Quem mais a não ser Dylan para escrever: “How many roads must a man walk down before you call him a man? How many seas must a white dovel sail before she sleeps in the sand? Yes, and how many times must the cannon balls fly before they’re forever banned?” (de “Blowin’ in the Wind”).
Inagualávelmente ajustável a certos senhores muito falados nos dias de hoje, que medem tamanhos e disputam possíveis guerras: “You that build all the bombs, you that hide behind walls, you that hide behide desks, I just want you to know, I can see trough your masks” (de “Masters of the Wars”)
É bom, muito bom, que um prémio de tamanho simbolismo e dimensão se lembre que também há literatura nas linhas simples. E que nas linhas simples, objectivas e directas existe a maior dificuldade de todas: a profundidade e a expressão de toda uma filosofia que abala estruturas hipócritas e relembra a dimensão de se ser.
Bob Dylan quebrou paradigmas com a sua escrita e com a sua música. A academia quebrou paradigmas com a nomeação de Dylan. Dylan segue e dirá, talvez, como disse em “Maggies Farm”, “I try my best to be just like I am, but everybody just wants you to be just like them”.