A superioridade da elegância moral

Na espuma dos dias, em que todos nós vivemos, somos levamos vezes demais a concordar connosco. Daí, por vezes, não ser possível sair da bolha em questão,  para poder apreciar com mais clareza a nossa situação psicossocial. Por forma a poder fazer a introspeção, sempre necessária, para quem, como eu, pretende alcançar objetivos mas também elevar a minha capacidade moral e cognitiva. Tudo junto, sem atropelos, para não quebrar nenhuma das dimensões do individuo.

Uma das coisas que mais gosto me dá, é poder aprender com uma perspetiva completamente nova e, dentro dos meus limites, conseguir adaptar a forma como me expresso e sobretudo como me sinto em relação à vida que tenho, e à que projeto ter. Tendo tudo isto em consideração, observo um certo padrão de pessoas que se me apresentam durante a vida. Padrão este que, a todo o custo tenho tentado identificar e de seguida sublimar, com a dose de compaixão certa misturada com assertividade. Tenho conseguido cada vez melhor, estabelecer estes padrões para mim próprio e assim, fazer corresponder o que eu espero, de quem conheço, ao que de fato as pessoas demonstram ser.

Olho para trás e vejo o quão longe caminhei, sem orgulho, mas agradecido. Todavia, sem a arrogância de achar que algo está completo, acabado e fechado. A minha solução foi e será a mesma, errar até acertar e depois vigiar o acerto. Empirismos à parte, há sempre o apelo das academias, das ideologias, do brilhantismo da oratória, a superioridade da elegância moral. Este canto da sereia, ecoando naquilo que estes pensam ser a minha caverna de Platão, é uma das maiores armas de destruição maciça mental. Esquecendo que a seguir à caverna está o resto do mundo.

Logo eu, que só quero ouvir, apreender, raciocinar e chegar à próxima pergunta. Mas exatamente por isto, corro maiores riscos de corrosão das minhas ideias. É o preço que se paga, quando se democratiza a liberdade de se poder propalar as visões mais ou menos autoritárias, informadas ou conscientes. No entanto, continuo a achar que a discussão sadia de pontos de vista diferentes ou mesmo opostos é válida, ou mesmo, fundamental para fazer avançar o mundo. Mas para além de chocar de frente com uma sociedade hipersensibilizada pelas redes sociais — ou como eu gosto de chamar, centros de urgência de indignação precoce — também choco com quem afirma, de uma forma quase crédula, que só se ouvem sumidades, ídolos e que não merece a pena discutir nada profundamente com o nosso próximo, a mesmos que este, concorde com a visão que temos, ou com aquilo que achamos ser a realidade.

Porque é que não é permitida a loucura sã de deixar alguém exprimir-se sem ser executado mais depressa do que no tempo da inquisição católica. As fogueiras de agora são parágrafos não menos inflamados, do que os montes de madeira de então. Que caminho é este? Mais, que direção é esta? Qual é a solução para a viragem, em direção à evolução emocional, cognitiva e racional? Como fazer isto andar tudo de mãos dadas? Eu penso que é mais fácil do que se julga.

Para mim resulta pensar na solução específica para cada problema e não nos entretermos a encontrar as falhas dos outros e os problemas adjacentes que todos temos. Claro está, que se formos para um plano mais macro, o processo, a meu ver, inverte, ou seja, pensamos num plano integrado de soluções pensadas pelos diversos sectores da sociedade, do poder político e judiciário, para a seguir, poder desenvolver políticas públicas e iniciativa privada, capaz de levar o plano avante. O que eu quero dizer com isto é que, quando se trata do indivíduo, talvez uma boa decisão mude muitos dos aspetos da vida desta pessoa, enquanto que para reformar e reestruturar algo na sociedade, constituída por estas pessoas, é preciso um plano amplo, resiliência e vontade, para, com o tempo, se verem mudanças efetivas.

Juntando todos os planos referidos acima, desde mim próprio, passando pelo outro, pela sociedade até ao país, imagino como que um intrincado sistema de rodas dentadas, de diâmetros diferentes, que têm necessariamente de rodar, não só a velocidade como em direções diferentes, para fazer o mecanismo funcionar. Assim como nenhuma destas rodas está errada, nós também podemos não estar. É uma possibilidade.

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