A preguiça de pensar

Julgo que a preguiça de pensar agudizou-se, sobretudo, ao longo dos últimos anos com a ditadura do “on”. Sim, porque hoje em dia estar “in” é estar “on”, o que resulta, obviamente, numa maior dificuldade dos indivíduos em estarem enredados sobre si próprios.

É difícil, face a esta panóplia de meios de comunicação, conseguir ter tempo para pensar. E não me refiro ao pensamento pragmático, refiro-me ao pensamento abstracto, tão importante e vital para o crescimento intelectual. A comunicação em rede faz com que seja cada vez mais árduo ter um tempo alienado de tudo e de todos. O fluxo constante de informação que entra por todos os vectores da vida, acaba por nos ditar o pensamento. Em boa verdade, a máxima que diz que os media “não dizem o que pensar, mas sobre o que pensar” aplica-se realmente no quotidiano.CP_apreguicadepensar_2 (1)

O lufa-lufa típico do espaço citadino também é uma das razões para que a importância do pensamento tenha ficado esquecido. Aliás, viver sem pensar é um dos traços da sociedade de massas, que se caracteriza por ser “débil” no que toca ao pensamento crítico e à intercomunicação pessoal. Há uma “facilitação psicológica” em termos de conteúdos de informação, porque não há tempo de qualidade para dedicar ao pensamento e às ideias. Os media pulverizam, deste modo, o pensamento.

Os espectadores querem tudo “mastigado”, para pensarem o menos possível. Tudo o que implica um pouco mais de raciocínio é posto de parte.

As consequências desta massa amorfa, sem espírito crítico, é que estamos cada vez mais iguais uns aos outros e menos diferentes. É como se não houve espaço para a personalidade, num mundo tão mecanizado e autónomo. O bombardeamento de informação e de comunicação é tão grande que até parece mal, quando um indivíduo se desliga de todos esses estímulos para se focar em si. Como é que possível chegar até às profundezas do ser, que implica solidão e recolhimento, num mundo onde há tantos estímulos?

Os próprios meios de comunicação que migraram para o digital fizeram com que as pessoas obtivessem a maior parte da informação no Facebook e noutras redes sociais, tornando disponível os conteúdos para consumo em telemóveis, computadores, ou em tablets. Até mesmo as crianças estão em contacto permanente com estas ferramentas. A consequência deste uso abusivo das comunicações reflecte-se, sobretudo, na capacidade de concentração.

O scrool que as plataformas online habituaram os utilizadores faz com que as pessoas queiram a informação o mais fácil de consumir possível. Consequentemente, sendo o cérebro um músculo, precisa de ser exercitado e estes hábitos não permitem exercitá-lo convenientemente.

Se antes uma mesa de café era o espaço por excelência para promover o debate e o diálogo, passou agora a ser o sítio onde as pessoas tiram selfies e estão em contacto com os “amigos” de Facebook.

O facto de já não conversarmos tanto uns com outros fez com que o pensamento ficasse mais preguiçoso. E quando a mente funciona, é para falar ou pensar sobre acontecimentos virais que todas a gente vê e fala.

Antigamente discutiam-se ideias, faziam-se saraus literários. Agora tudo isso está à distância de um clique. Agora, já não há tempo, nem concentração para dedicar a um livro, a um filme, ou a outras formas de arte que façam pensar e dar sentido à vida.

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