O verdadeiro optimista é um teimoso. Ele insiste, persiste e não desiste de acreditar que tudo vai correr bem. E quando não corre, o optimista não desarma e mantém o foco, arranjando maneira de encontrar o lado positivo da situação.
O que se passa na cabeça de um optimista, é que ele não consegue conceber a possibilidade de alguma coisa correr mal. Não vem com essa programação. Há quem diga que os optimistas são uns ingénuos sonhadores ou até mesmo uns ignorantes, já que muitas vezes entra pelos olhos dentro que a coisa vai correr mal e só não vê quem não quer (ou não consegue) ver.
Podemos dizer, ah, mas há um momento em que o optimista tem de assumir que afinal correu tudo mal! Sim e não. Sim, ele aceita que talvez dessa vez a coisa não se tenha revelado como esperado. Não, ele não assume que correu mal, ele admite que alguns contratempos terão ocorrido, mas que daí em diante é que vai ser.
Na verdade, o optimista é um criativo. No pior dos cenários, ele vai encontrar o lado bom. O circo pegou fogo, mas salvaram-se os anéis dos malabaristas. A aldeia inundou, mas o casebre abandonado do cimo do monte não foi atingido com um único pingo de água. Quanta criatividade é necessária para se conseguir encontrar o lado bom de tudo o que acontece?
E este é o ponto em que o optimista se torna extremamente irritante. Se há momentos (muitos, na verdade!) em que precisamos de alguém que nos faça acreditar num final feliz, há outros em que precisamos de aceitar que correu tudo mal. Assumir a perda, incorporar a dor, chorar a derrota. Precisamos fazer o luto para depois continuar. E o optimista não percebe isto. Teimoso, insiste em ver o arco-íris no meio da tempestade, quando só precisávamos que nos chegasse um guarda-chuva. E não percebe que acabaremos ambos encharcados, sujeitos a uma gripe, seguindo alegremente, encarando a molha como uma purificação.
Não pensem que os optimistas não sofrem. Eles sofrem sim, por não serem capazes de fazer ver aos outros que a postura do copo meio cheio é sinónimo de uma vida mais feliz.
Há quem nasça optimista e nunca tenha sabido o que é ser de outra maneira e há quem escolha ser optimista. Dirão vocês, isso não é uma questão de escolha. Ao que eu respondo, ah isso é que é! Há uma expressão, que em inglês faz muito mais sentido, que diz qualquer coisa como isto, finge até ser verdade (fake it, until you make it). O cérebro é programável. Eu, por exemplo, não nasci optimista. Tornei-me optimista. São seis da manhã, estou de férias e não consigo dormir. O meu eu antes do optimismo estaria a dizer mal da vida pela insónia. O meu eu de hoje, agradece o facto de não ter conseguido dormir, tendo-me permitido estar a escrever este texto que deveria ter sido entregue ontem. Eu escolhi, a dada altura, olhar sempre para o lado positivo das coisas e acreditar que tudo iria sempre correr bem. E tanto fingi ser essa pessoa que acabei por me tornar essa pessoa.
A propósito de uma situação de pouca importância, dizia-me o meu marido outro dia que eu tenho a mania que é sempre tudo fácil, mas nem sempre é. E eu encolhi os ombros e pensei, lá porque não é fácil, não quer dizer que seja difícil. Mas, e se for? Se for, é aceitar e seguir. Fazer o melhor que se consegue com aquilo que se tem. Eu, por exemplo, não consegui dormir de noite, mas como estou de férias vou poder dormir de dia. E tenho a certeza que a próxima noite será muito melhor.