A juventude da mudança… e dos bolsos rotos

Queremos viver, realmente viver, no entanto, mal conseguimos sobreviver.

Andamos de bolsos rotos ou com uns remendados pelos nossos pais. Arranjar casa a preços razoáveis, e justificáveis, está tão difícil que é quase impensável imaginar uma vida fora do ninho.

As pessoas de faixas etárias mais avançadas dizem que, na altura da juventude que uma vez lhes pertenceu, emprego não lhes faltava, “era aos pontapés”. Que arranjavam casa, tinham uma carreira estável, casavam e tinham filhos com 20 e poucos anos feitos de fresco. Nos tempos de hoje, isto está longe de ser a realidade, não dá para “sair do ninho”, pelo menos tão cedo como há uns anos atrás.

Queremos começar uma vida independente, mas é uma coisa à qual nos vemos obrigados a adiar para mais tarde, anos mais tarde.

Em 2018, segundo um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, a percentagem de jovens adultos que viviam com os pais, entre os 18 e os 34 anos, atingiu uns arrebatantes 64%. Atualmente, a idade de emancipação em Portugal encontra-se acima dos 30 anos.

Depois admiram-se que comecemos a olhar para fora para encontrar oportunidades, porque se olharmos para dentro, não existe nada para além do contrário. Posteriormente, somos criticados por não ficar a ajudar o nosso país a rejuvenescer, a crescer, quando, simplesmente, não há espaço para crescimento, ou, pelo menos, não nos é permitido.

A disciplina e gestão orçamentais que nos é imposta tornaram-se um requisito básico, o que nos coloca quase sempre em “modo sobrevivência”, todo o tostão tem de estar contado. Embora morar com os pais, neste momento, seja a escolha mais estável e segura, em termos financeiros, o desejo e a tentativa de procura de independência é um fator de maior peso.

Nem precisamos necessariamente de falar apenas da tão querida independência, falemos do nosso lazer e, tão ou mais importante, da nossa saúde mental! Estes fatores acabam, muitas vezes, por ser relegados para segundo plano, ou chegam até a ser considerados um luxo, um privilégio.

O pensamento em investir nessas áreas da nossa vida começa a ser questionável, alvo de muitas incertezas, em muitos casos até é completamente desligado.

Estamos de bolsos rotos virados do avesso, mas, contraditoriamente, somos a juventude da mudança.

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