Tido como um dos clássicos da literatura de aventuras, juvenil ou como se queira classificá-lo, A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, transporta-nos para épocas dadas nas aulas de História, a exploração dos mares em cascas de noz, quando o mundo era um lugar fascinante e tenebroso e de cada vez que uma caravela saía para o mar, corria o risco de encontrar um pedaço de terra nunca antes cartografado.
Era já homem feito quando li A Ilha do Tesouro (aos 41, parece-me que nunca me hei-de ver como um “homem feito” mas pronto: a expressão devia aplicar-se ao dobrar os 32, momento em que tentei regressar à infância). Não posso dizer que a experiência tenha sido um acto falhado pois a história lê-se bem e o ambiente de medo, mistério e peripécias inesperadas servem o propósito de colorir as imagens que se desenham na nossa mente enquanto desbravamos a leitura. Mas já tinha 32 anos…
Não sei se pelo que havia vivido ou por alguma propensão genética (o eterno duelo sobre o que está na génese de artistas e cientistas), as leituras foram desbravando caminho dentro de determinados géneros, autores, geografias, correntes e até épocas. A Ilha do Tesouro, fugindo a sete pés do que lia e leio habitualmente, foi uma tentativa de “descansar através da leitura”. Como uma intenção mal calibrada pode deitar por terra um livro. Bastava assumir que não tinha mal passar pela vida sem ler A Ilha do Tesouro mas não, insisti na história do pirata Long John Silver com a sua perna de pau e a busca por um tesouro perdido algures numa ilha distante. Soube-me a pouco, tendo acontecido durante a leitura a curiosa sensação de resvalar para o tédio ao mesmo tempo que percebia o fascínio daqueles personagens, daquelas terras longínquas e do tão desejado tesouro, só que o fascínio não era o meu, como se me tentasse colocar na mente de quem havia sido vinte anos antes para recuperar as sensações de então.
Nada mais errado: com Hemingway, Buck, Borges, du Maurier ou Hesse de permeio, dificilmente voltarei a experimentar a magia das histórias de infância. Não é mau que assim seja: não li este mas li outros. Contudo, não deixo de ter pena de se me ter escapado o que Miguel Sousa Tavares experimentou quando escolheu este livro – na versão que li – para a série Os Livros da Minha Vida:
Uma história que nunca mais esquecemos, que passa de geração em geração, como se fizesse parte da nossa própria vida.
Se ainda não passaram os primórdios da adolescência, leiam esta história; se já dobraram o cabo das tormentas, arrisquem regressar ao porto de partida, nem que seja por meia dúzia de dias de leitura. Pode ser que tenham mais sorte do que eu.