Durante meio ano, o número 44 era um dos mais conhecidos do país. Isto, porque na prisão da cidade de Évora, património da humanidade, estava detido um ex-primeiro-ministro. Acusado de algo que a população nunca soube muito bem do quê, pelo menos essa é a defesa usada pelo advogado João Araújo que ficou conhecido por mandar uma repórter de um conhecido jornal “tomar banho”.
Acaso do destino, ou vingança profética, a televisão desse mesmo jornal também esteve presente, quando um estafeta de uma pizzaria se dirigiu à nova residência do número 33 (deixou a prisão e o número de preso, para estar detido na residência da ex-mulher) com uma entrega (que de um momento para o outro passou a ser a mais conhecida do país), mas sem documentos. Os polícias que estão a fazer guarda a esta residência não são os mesmos que se encontram à porta da luxuosa moradia de Ricardo Salgado, onde apontam os nomes daqueles que entram e pouco mais. Aqui foram firmes e não deixaram o “pobre” rapaz passar mesmo depois de um coro de protestos dos jornalistas, especialmente do CMTV, que queriam que o rapaz bate-se porta a porta, a perguntar quem perdeu uma pizza (que não era gigante).
Contudo, não foi este incidente que fez com que o senhor não se alimentasse. Muito pelo contrário.
Dois dias depois, ocorreu uma nova romaria com o dia de anos daquele que está para estas eleições como a personagem de Voldemort está para a saga de Harry Potter. Numa rua algo esburacada, um bando de jornalistas apoiava um combalido Mário Soares, que ia desejar os parabéns ao amigo. Porém, ia apenas desejar os parabéns, pois cantar não era muito com ele, como o próprio iria declarar aos microfones dos jornalistas um par de horas após ter entrado para o interior do prédio (que afinal é uma vivenda – já que o senhor está preso, penso que se deveria fazer uns mapas para que não se perca no interior da sua casa nova e, como é óbvio, tudo ao melhor estilo do Prison Break). Mário Soares pode não saber cantar, mas Gabriela Canavilhas, última ministra da cultura no governo PS, toca que é uma beleza. Aliás, foi ela que tocou os parabéns ao piano, enquanto um grupo de socráticos ferrenhos felicitava o “querido líder” pelos parabéns e pela saída da cadeia. No entanto, se enquanto esteve preso foi algo incómodo, mandando cartas para tudo o que era órgão de comunicação social a clamar a sua inocência e apresentando-se como um preso político, chegando mesmo a acusar o super-juiz e o Procurador de o terem prendido para prejudicar o PS.
Estamos a poucos dias do começo da campanha a sério. Esta começou dia 20. Os espectadores deste “Big Brother Sócrates”, como apelidou uma conhecida jornalista da nossa praça à prisão e agora à volta a casa daquele com quem, em tempos, teve uma relação amorosa, vão poder ver o que é mais importante para o país: se os programas de governo, ou se quem chamou a troika (garanto que não fui eu!).
No primeiro debate, transmitido pelas televisões, foi figura sempre presente com o primeiro-ministro a evocar, constantemente, o seu nome e os feitos (ou desfeitos) do governo rosa, enquanto o candidato a futuro Primeiro-Ministro defendia-se e afastava-se do “fantasma” do amigo, ou ex-amigo.
A certeza é uma. José Sócrates anda por ai e ganhe a coligação, ou ganhe o PS, ele continua a incomodar muita gente.