Há mais editores que escritores

Há uns meses, escrevia para uma avaliação de grau elevado algo que se centrasse na importância das palavras para pertença na sociedade. Na altura, entre o suor nervoso, a caneta que não parava de tremer e o constante medo de me esquecer de meter as vírgulas nos sítios certos, escrevi o que eles queriam ler.

Cheguei a casa e consciencializei-me que aquilo que lá havia ter escrito não era. Sim, as palavras são super-importantes, mas perigosas… blá, blá, blá.

Sim e daí? E o facto de não dizermos a verdade, utilizando as palavras certas e adequadas de que a nossa vida nem todos os dias, aos nossos olhos, é perfeita.

Sim, nós achamos muitíssimo importante a comunicação. É igualmente importante termos noção que ninguém ou poucos são aqueles que receberam o Euromilhões e andam a gritar que isso lhes aconteceu. E se o fazem? São burros.

As palavras são relevantes para mandarmos uns insultos uns aos outros, uma vez que se fôssemos mudos isso não acontecia. No entanto, para além disso, nós falamos muito mais no silêncio.

A nossa vida corre bem, é rosa na maioria dos dias e eu não digo que ela é. Porque as pessoas gostam de te ver os felizes, mas nunca mais do que elas. Porque não vou estar a dizer a alguém que sou mesmo feliz, quando sei que ela está completamente destroçada. E porque a minha vida é muito mais minha do que do mundo.

Por isso, não se restrinjam as palavras rápidas que ouvem. Pensem nas vírgulas que deveriam ser postas e não foram. No olhar mentiroso que diz o posto. Em tudo menos nas palavras.

Dificilmente aguentaria se me retirassem o enorme prazer de estar 1h30 a contar o meu dia, mas com certeza que não me ia iludir pela retórica.

Púnhamos a seguinte hipótese: se fosse dada a oportunidade de cada um de vós que está a ler isto agora, que suponho que seja só o meu pai, de escrever um livro que retratasse a vossa própria vida e mais ninguém o lesse senão vocês próprios, iriam mentir tanto como mentem, quando dizem que são felizes 365 dias por ano?

Possivelmente não iriam aceitar o desafio, porque a vossa vida é muitíssimo acelerada e nem têm tempo para se coçarem, ou afirmariam que não sabem conjugar bem as palavras e a pontuação, mas esse seria precisamente a maior obra de arte que alguma vez haviam ter concebido.

O meu está com alguns erros ortográficos, umas páginas escritas a rosa, outras a preto. Com as vírgulas, os pontos finais, exclamações e interrogações que acho pertinente e com a minha assinatura final.

Porque é a minha história, a melhor que alguma vez li e não existe ninguém que possa vir dizer que a sintaxe e morfologia está incorreta.

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