O final do ano político está a ser marcado pela palavra “eleições”. Eleições internas no PSD, congressos marcados e desmarcados no CDS e eleições legislativas no início do ano resultantes do chumbo do orçamento de estado de 2022. Esta taça misturadora em que a política nacional se encontra não pode ser dissociada dos tempos conturbados que o mundo atravessa devido à pandemia. Valores frágeis estão hoje ainda mais frágeis. A solidão instalou-se na vida de muitos encontrando escape, apenas, na anarquia das redes socais.
A entreajuda tornou-se distante. O poder político cumpriu o distanciamento social e Portugal ajoelhou-se perante a bazuca europeia. A crise migratória agravou-se e foi transformada num negócio de pressão política. Surgiram movimentos terra planistas e a extrema-direita renasceu das cinzas. Estamos mais ariscos e susceptíveis. Qualquer amarelo em detrimento do azul é alvo de discussão e ofensa gratuita.
Enquanto nos preocupamos com assuntos não-assuntos, a política nacional desmorona-se e mostra, ainda mais, a falta de substância que a caracteriza. Já não existem políticos com amor à camisola como Cunhal ou Freitas do Amaral. Ficamos boquiabertos ao ouvir a clarividência das palavras de Basílio Horta, porque, pura e simplesmente, já não se fazem políticos assim. Colocar os interesses do país à frente dos seus, pensar a comunidade considerando todas as suas particularidades e estar ao nível dos seus concidadãos sem torres de marfim, são características cada vez mais escassas no cenário político português.
Ao olhar para o panorama político nacional quase fico com a sensação de estar a assistir a uma hora de recreio do meu filho de 4 anos. Para o cidadão comum (expressão que me desagrada mas não encontro nenhuma melhor) o chumbo do OE22 não foi mais que uma birra dos partidos à esquerda do PS. Para o cidadão comum, a guerra aberta no PSD entre Rio e Rangel tem muito pouco de espetáculo de qualidade, atrevo-me até a dizer que traz à memória a dinâmica Seguro/Costa.
O afogamento do CDS nas mãos do Chicão é motivo de vergonha alheia, principalmente sendo um partido que desempenhou um papel fundamental na construção da democracia portuguesa. O PRR é acenado como um chocolate e António Costa vale-se deste trunfo para fazer campanha e muito provavelmente para ganhar eleições. Marcelo, antes presidente dos afectos, agora tornou-se parte integrante do carrocel descontrolado.
As análises políticas sucedem-se incessantemente na televisão, justificações tentam ser encontradas mas não existe fio condutor. Não há sumo, não há verdadeiro interesse público, as ideologias são usadas para proveito próprio e muito pouco respeitadas. Num país que tem tudo para ser gigante, parece que faz de propósito para ser pouco. E isso, apoquenta-me.