A arte como cura

Poesia… ah, a poesia, tão conectada à essência de cada um, mas tão pouco lida, tão pouco compreendida. Vista como umas rimas caídas num qualquer livro, tão sem interesse, tão démodé. Não, a poesia não é isso. É, sim, incompreensível para quem não compreende, também invisível aos olhos tão cegos para o seu poder curativo. Por exemplo, podemos ler mil livros científicos sobre a vida e a morte, mas é ela, a poesia, que consegue captar o seu amago, a sua essência.

Em relação aos poderes curativos, não só ela tem esse efeito.

As artes e a cultura no geral também têm a sua quota parte. Fazem esquecer e, quiçá, subir um degrau na recuperação e cura de uma doença. Como no caso de alguém com uma depressão. Será que ouvir música, ir ao teatro, ou até ver um filme é uma boa terapia e distracção para fazer esquecer essa doença melancólica, que tira a autoestima e o gosto de viver? Como através de um livro, da pintura ou ler um poema pode fazer esquecer por momentos desse sofrimento que é um cancro? A longo prazo, essa arteterapia terá muitos benefícios na própria mente do paciente em estados críticos?

Não sou entendida, mas diria que sim, baseando-me nos inúmeros casos que tenho conhecimento em como uma simples canção ou pintar um quadro tiveram um feito poderoso e relaxante na sua recuperação, como   um apoio terapêutico, faziam esquecer a doença e a tristeza. Pois, quando estamos doentes, só estamos focados no estado em que nos encontramos e, quando podemos ter alguma coisa que nos pode fazer viajar e esquecer um pouco disso, é a luz ao fundo do túnel. Um caminho para a cura, embora não a seja propriamente, arte pode ajudar o paciente na sua recuperação.

A própria medicina e as artes estão também cada vez mais ligadas, como funcionassem em uníssono. A arte por si só já é um poderoso meio de comunicação, e um bom exemplo disso é o poeta, professor e médico de Harvard Rafael Campos, que ganhou o prémio de Hipócrates pelo poema sobre um paciente moribundo. Nele, abordava o poder da empatia para combater a distância que existe entre os pacientes e a classe médica e como podem interagir e aprender uns com os outros. Nisso, a poesia e a medicina funcionam de maneira brilhante, porque a medicina é onde a ciência colide com a vida, e como a inspiração poética pode ajudar a tentar curar as mazelas psicológicas e alternativa a terapias químicas.

É alcançar outro patamar, na experiência humana, é o aproveitar as intensamente a audição, o olfacto e a visão, sentidos latos ainda pouco aproveitados na recuperação e terapia de doentes.

Cada vez mais a medicina e a vida estão ligadas, pela ciência e pelas artes, pois todas têm as suas mais valias e, trabalhando todas juntas, podem chegar ao ideal, uma vez que as artes por si só não são a cura, mas funcionam como uma nuvem que embala no longo caminho da cura. Vamos esperar que a depressão com uma simples terapia musical se desvaneça da mente, que um cancro diminua, com o relaxamento do corpo, que uma dança aqueça e fortifique a circulação de alguém com anemia. Vamos esperar o melhor do mundo da medicina e da ciência no progresso e aniquilação das demais doenças, mas não vamos esquecer o apoio tão eficaz e relaxante das artes e cultura que a meu ver são o braço direito de quem procura no vazio um amigo para as horas difíceis da vida.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Nomadland

Next Post

Pessoa nódoa, ou nódoa de pessoa

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next