A emergência de um campeão e a queda de um mito

O ano ficou também marcado, para gáudio de todos os portugueses, pela afirmação de Rui Costa. O ciclista natural da Póvoa do Varzim teve um ano memorável ao conquistar a Volta à Suíça, pelo segundo ano consecutivo, e ao ser uma das figuras da centésima edição do Tour, graças às duas vitórias em etapas (na 16ª, entre Vaison-La-Romaine e Gap, e na 19ª, entre Bourg d’Oisans e Le Grand-Bornand), mas, mais do que isso, coroou a sua época com o título de campeão do Mundo, conquistado em Itália. Foi a primeira vez que um português conseguiu tal feito.

O poveiro tem mostrado todo o seu enorme potencial e revelado que é um dos ciclistas de topo da actualidade. Como tal e como recompensa pelos seus feitos, acabou por assinar um contrato com a Lampre, uma equipa italiana que já foi uma referência do pelotão internacional e que agora está um pouco arredada das grandes conquistas. Pessoalmente, penso que existiam melhores opções para o Rui continuar a sua carreira, mas uma coisa também é certa: vai ter a oportunidade de ser chefe de fila (algo que na Movistar era difícil de acontecer, por causa de Alejandro Valverde e Nairo Quintana) e de lutar por voos mais altos.

Certamente que vai ser uma enorme experiência para o ciclista português, mas também há que haver alguma cautela. O director-desportivo da Lampre já afirmou que quer Rui Costa a lutar por um título numa grande volta. Isto é um pouco como o Benfica: como é lógico, qualquer benfiquista gostava de ver a sua equipa jogar a final da Champions na Luz, mas o plantel de que dispõe não lhe permite alcançar isso. Com o Rui Costa é idêntico. O ciclista ainda tem alguma margem de progressão e a pressão que lhe vai certamente ser colocada pode não lhe ser benéfica. É claro que todos gostávamos que ele vencesse o Tour, mas deve ser-lhe dado tempo para isso.

 E tudo o Benfica perdeu_1

Por falar em Tour de France, Chris Froome foi a grande figura da prova. O britânico da Sky conquistou três etapas de alta montanha e venceu a prova sem margem para dúvidas. Froome terminou com mais de quatro minutos de vantagem para o segundo classificado, o colombiano Nairo Quintana. O ciclista foi avassalador e foi assombroso vê-lo subir rampas tão monstruosas como Ax 3 Domaines, ou o mítico Mont Ventoux. Em muitas ocasiões, fez mesmo lembrar Lance Armstrong: a forma como pedalava, o pragmatismo na forma como lia a corrida e a facilidade com que atacava e até se defendia, deixando todos os outros para trás. Só se espera é que, daqui a uns anos, não se comprove que este novo herói também tenha recorrido a substâncias ilícitas para vencer uma das maiores competições do mundo do desporto.

Falando em Armstrong, o ano ficou igualmente marcado por uma revelação que deixou o mundo do ciclismo em choque. Numa entrevista dada a Oprah Winfrey, o antigo corredor norte-americano, vencedor de sete Tours consecutivos, admitiu ter recorrido a eritropoietina (EPO), transfusões sanguíneas, testosterona e cortisona. O mesmo é dizer que recorreu ao doping para vencer cada uma das sete Voltas a França! “Morria”, assim, a lenda de alguém que ultrapassou um cancro e cujo exemplo e força de vontade conquistaram milhões de fãs por todo o Mundo (incluindo eu). O herói virou fraude e assombrou a verdade no ciclismo. Para ajudar à “festa” descobriu-se que outros grandes campeões como Jan Ullrich, ou Danilo Di Luca também consumiram substâncias ilegais. Mais: a Rabobank foi banida por casos múltiplos de doping e agora até o vencedor da Volta a Portugal, Alejandro Marque, está envolto em suspeitas. Será o ciclismo um desporto de fachada, em que só se ganha fazendo batota? É claro que existem desportistas honestos e que só pedalam em função do seu esforço, mas parece que para se ser o melhor dos melhores, isso não chega…

Notas finais

Os últimos grandes destaques vão para Rafael Nadal, Serena Williams e Sebastian Vettel.

Comecemos por Nadal. O tenista esteve ausente dos courts por um largo período devido a lesão e muitos diziam que ele nunca mais voltaria à ribalta. Pois, eis que o espanhol recuperou, regressou mais forte do que nunca e calou todos os críticos, ao vencer dois grand slams (Roland Garros e US Open) e reconquistar o primeiro lugar da hierarquia, destronando Novak Djokovic. Eu nunca fui apreciador de Rafael Nadal, sobretudo, por causa da sua arrogância, mas há que reconhecer o seu valor e o seu esforço. É um pouco como Ronaldo: trabalha muito para chegar ao topo e baseia o seu jogo na força. Um líder no court e nunca desiste do ponto.

Ainda no ténis masculino destaque para João Sousa, que foi o primeiro português a ganhar um torneio ATP e a alcançar o top-50 do ranking mundial. Isto só mostra que os tenistas portugueses também são capazes de competir com os melhores do Mundo e que, com outro tipo de condições, poderiam figurar no aclamado top-10. Fica aqui uma dica aos altos dirigentes para não apostarem só no futebol. Olhem para as outras modalidades e dêem melhores condições aos nossos atletas.

Prossigamos com Serena Williams. Ganhou, curiosamente, os mesmos torneios que Nadal e é detentora da liderança do ranking WTA (com uma diferença abismal de mais de 5000 pontos para Victoria Azarenka). Uma simpatia fora do court e aguerrida dentro dele, Miss Williams não dá piedade às adversárias. Dona de um serviço que faz inveja a muitos homens, a norte-americana não dá espaço e muitas são as vezes em que dá uma roda de bicicleta a quem se mete com ela… o mesmo é dizer que consegue resultados de 6-0 com uma enorme facilidade.

Para terminar, Sebastian Vettel. Este rapaz de 26 anos é um verdadeiro Ás do volante. Tornou-se este ano tetracampeão e de uma forma imaculada: venceu 13 das 19 provas, sendo que estabeleceu o recorde de nove triunfos consecutivos. Um ano fantástico para o alemão que soube que vai ser pai pela primeira vez. Quem sabe se não nascerá um novo campeão da Fórmula 1.

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