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Hoje estou apenas cansada

Eu não sou tão triste assim. É que hoje eu estou cansada.

– Clarice Lispector

Do fundo da alma, o desalento e a falta de força, o mundo caiu e com ele os alicerces que suportam a minha existência; afinal, os Maus existem mesmo…

No entanto, a vida não se compadece de dores ocultas que se escondem na interioridade de cada um e apenas eu posso suportar essa mágoa num arrastar de dias que seguem iguais, que continuam aparentemente como se nada fosse, apenas eu sei que assim não acontece.

E somos obrigados a aceitar algo que não depende de nós e do qual não temos a culpa.

É nestas alturas da vida que vêm à minha mente todas as citações sobre resiliência, coragem e determinação que vou lendo pelas redes sociais e/ou artigos que a vida ocupada ainda me permite que leia. E assim, repito de mim para mim as frases feitas de que tudo seguirá o seu rumo, que quando se fecha uma porta se abre uma janela ou mesmo uma janelinha. No fundo, o que importa que permaneça sempre é a esperança.

A esperança de que do caos nasça a ordem e que da tempestade amanheça a bonança. Queria tanto acreditar no que escrevo e espelhar alegria e felicidade, mas o aperto no coração que me asfixia e corta a respiração não mo permite fazer.

E resta-me apenas a resignação. A vida é composta de etapas e de obstáculos que se ultrapassam e que nos enriquecem ao longo do caminho, fazendo das derrotas verdadeiros momentos de aprendizagem que nos catapultam para o próximo momento. Aquele em que já não choro sozinha e me é permitido sorrir, sem falsos movimentos, apenas porque me apetece e o meu coração pede.

Pede-me que sorria e que respire de alívio pelo momento de solidão que vivi sozinha, em que não me foi permitido ter sentimentos e em que apenas a razão prevaleceu sob este tempo.

Temos de aprender a distinguir o que é do sentimento e o que é da razão, e neste instante não há lugar a sentimentos, apenas a razão que me obriga a ser pragmática e a colocar os olhos no futuro e no sucesso, esquecendo as lágrimas que por algum tempo teimaram em deslizar pela face.

Sendo que sempre fui um ser muito alegre e naturalmente bem-humorado, este momento que agora vivo parece mais uma nuvem negra que de repente resolve aparecer para ensombrar o meu dia. E apesar de saber que não é nada assim, prefiro, na ingenuidade da minha tristeza, acreditar que este é apenas um momento cinzento e que em breve o Sol voltará a brilhar para me iluminar o caminho.

Afinal, se pensarmos um pouco, não há dia sem noite nem sol sem chuva, e o aconchego desta solidão que me preenche a alma e entristece o coração ajuda-me a ultrapassar este breve e terrível caminho que aniquila cada milímetro do meu ser e me reduz ao pó do fracasso, deixando-me na beira do abismo.

Agora não me é permitido ver a simplicidade dos momentos bonitos da minha vida, e de repente os meus dias transformam-se num sofrimento irrespirável no qual continuo sozinha, na mesma companhia de sempre.

Mas porque sou uma pessoa de fé e de muito amor no coração, continuo a acreditar na vida e nas pessoas, e, portanto, levarei comigo deste momento malvado não apenas a mágoa, a tristeza e a dor, mas a sabedoria de uma lição aprendida, de que não somos de facto todos iguais.

Afinal, percebo agora, tal e qual uma inocente criança de quatro anos, que existe o Bem e o Mal e que há pessoas que gostam de fazer mal de verdade aos outros, e à semelhança dos fantasmas que habitam nos castelos assombrados dos filmes da nossa infância, estas pessoas estão a qualquer virar de esquina.

E uma delas acabou de cruzar o meu caminho. Ou será tudo um pesadelo e em breve abrirei os olhos, percebendo que o sonho mau acabou?

Não sei… não consigo perceber.

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