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Uma Escola a Tremer de Frio

A Escola Secundária de Serpa treme de frio e fica encharcada quando chove. Os seus alunos sofrem com estas condições deploráveis que tornam mais e mais árdua a tarefa de aprender. Os professores sofrem a incerteza, todos os dias, das condições que vão encontrar para leccionar. Todos sofremos, porque a ES Serpa é um dos retratos de um Alentejo que não foi esquecido mas foi posto de castigo, ao cantinho da Sala.

Quando eu terminei o meu percurso na “secundária”, estávamos em 2013. Lembro-me muito bem de nos ter sido dada a notícia que os trabalhos de modernização da escola estavam tinham sido adiados novamente! Para arrancar em 2014. Lembro-me disto muito bem, porque na altura até pensei “Agora que me vou embora é que começam!”.

Os trabalhos não arrancaram em 2014, nem em 2015… nem em 2020. E a escola, com agora quarenta e quatro anos de idade, que supostamente seria uma construção provisória, continuou a degradar-se, cumprindo a máxima da entropia.

Quando falamos da Escola Secundária de Serpa, falamos de um dos corações do concelho. Todos os concelhos vivem de jovens, vivem deles no Associativismo, no Desporto, na dinamização cívica e, no fundo, são eles o nosso público – as pessoas que podem no futuro ficar por cá, dando o seu contributo para a evolução da comunidade, ou debandar.

Quando falamos da Escola Secundária de Serpa, falamos de um instrumento de inserção fundamental, não só ao nível da escolarização, mas também no que diz respeito às inúmeras atividades, clubes e iniciativas que esta comunidade docente e não docente se propõe a fazer, todos os anos, sem descanso, com e sem goteiras frias a pingar na nuca.

Em termos práticos, a escola tem cerca de três dezenas de alunos, sendo que trezentos e onze são alunos de ensino secundário e vinte e seis se acrescentam a estes, contando com os adultos que beneficiam dos serviços de educação a adultos, totalizando trezentos e vinte e sete alunos.

Em termos práticos, a escola ficou em 515º lugar no ranking Nacional (num universo de 625 escolas), sendo a sua melhor nota na disciplina de Português (11,55 valores) e a pior na disciplina de Física e Química (8,40 valores). Em termos práticos não saberíamos em que lugar ficaria se os alunos tivessem conforto para estudar e condições para existir concentração.

A Escola Secundária de Serpa apresenta valências de imensurável valor para toda a comunidade escolar: a sua oferta formativa, clubes de desporto, clube de teatro, espaço de compreensão do contexto cívico nacional e europeu, uma janela para o mundo.

Inaugurou-se ainda este ano, no edifício da ESS o Centro Qualifica, mais uma valência importantíssima e que proporcionará o acesso a informações, orientações e guias no que diz respeito à formação profissional e escolar, bem como a validação das competências adquiridas, certificando-as.

Mais que isso A ES Serpa é, durante três anos, o edifício mais importante nas vidas dos enfermeiros, dos médicos, dos agrónomos, dos químicos, dos professores, das educadoras de infância, dos deputados, dos treinadores, dos historiadores do futuro… é o receptáculo do potencial albergado nestes jovens. Jovens, como eu fui com os meus colegas, sofrendo condições parecidas, mas as condições vão piorando a cada mês, a cada período, a cada ano.

Chegámos ao impensável ponto de existir um estabelecimento com quadros electrónicos, topo de gama, ao lado de estores podres, que não fecham, com as suas pequenas resistências a lutar também contra a humidade e contra o frio que teima em entrar pelas janelas, pelas fendas da parede, pelas portas. É um modem 5G instalado no meio de um casebre ruído.

Não se compreende como a ES Serpa não é Prioridade tanto da autarquia, como do governo central. Sendo que, por cá, vemos o ping pong de responsabilidades, sem entendermos muito bem onde é que a responsabilidade importa em quarenta e quatro anos de desleixe, de esquecimento, de negligência. Uma viagem intermitente, com avanços e recuos, que principiou no ano de 2009, contou com a inserção da intervenção no âmbito da Parque Escolar, sendo adiada durante o ano 2012 durante a intervenção da “Troika”, em 2013 a célebre “construção prevista” que já referi e durante anos avanços e retrocessos neste processo que ainda se encontra em aberto…

Aquilo que se sabe é que o futuro de todos é o presente destes jovens e que o bem-estar destes alunos é um direito que não deve ser hipotecado pelo jogo de egos partidários, do centralizar ou descentralizar e do apurar responsabilidades.

O futuro é, contudo, cada vez mais incerto: pensa-se que a grave crise pandémica certamente levará a uma nova crise económico-financeira, mas uma coisa é certa… é chegada a altura de se retribuir alguma dignidade a estes professores, a estes alunos e a este concelho interior de Portugal onde o desenvolvimento custa a chegar e a igualdade de oportunidades chega atrasada “para o toque”.

Chega de apurar responsabilidades, apurem um empreiteiro, apurem cimento e tijolos. Não nos ponham de castigo mais uma década.

Assim é, no Alentejo.

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