Um artigo sobre a sociedade e sociedade apenas

Terça-feira. Dia 11 de fevereiro de 2020. Sim, 2020. Nasci em 1997 e já nos meus primeiros anos como ser pensante/atuante observava esta data tão longínqua como um enorme marco. O que ocorreria neste ano? E até lá? Será que o cliché dos carros voadores se ia tornar realidade? Um fato de Iron Man seria realidade? E que tal alguém com poderes iguais aos do Super-Homem? Radiação era algo que não faltava, já em 97. E todas as crianças acham que é algo que concede poderes. E qual tal um supercomputador, que faz o trabalho de dezenas de aparelhos e que cabe no bolso das nossas calças? Um aparelho tornado tão banal, ao ponto de o colocamos no bolso de trás das calças… querem adivinhar qual destas visões se tornou real?

Pessoalmente, nunca tive essa visão. Estava longe de imaginar que nos íamos tornar zombies humanos e sedentos por fotografias de comida esteticamente aprazíeis, em vez da comida em si. Certamente, tudo isto não passava pela mente de uma criança, mas algo era consistente: que a valorização do dinheiro e da fama iria continuar a ser uma valorização extrema. E essa valorização leva a diferenciação. No metro, onde eu me lembrei de todos estes factos, apercebi-me que também a diferenciação é feita face à marca de cada supercomputador. Ou telemóvel, ou smartphone, ou como quiserem chamar.

Há pouco dinheiro espalhado pela maioria da população, grande parte de todos os povos mundiais valoriza quem o tem. Especialmente se for utilizado de forma descabida em carros ou substâncias ilícitas. Sobrevaloriza, exatamente, porque a velha moral de o dinheiro não comprar tudo está desgastada e poucos seguem tal princípio.

A fama, às vezes não é proporcional ao seu merecimento porque por um lado há indivíduos que fazem tudo para serem conhecidos, mas fazem pouco para merecerem esse reconhecimento; e por outro lado há outros indivíduos que só e apenas tiveram sorte ou vieram de passados com legado.

Quem tem mais bens poderia ser mais generoso para com os outros, essa seria uma forma de valorizar alguém. Uma forma muito utópica de viver, eu sei. Vale mais aquele que faz e dá o que consegue e pode do que aquele que dá e faz à espera de notoriedade, basicamente só para demonstrar que consegue ser altruísta. E exemplos destas existem às dezenas. Não contando com a classe política. Onde será que os políticos aprendem o marketing pessoal e partidário? Existirá alguma escola secreta, numa espécie de Batcave? Bem, continuando…

No entanto, deveria saber que o altruísmo não foi feito para ser forçado e realizado contra a vontade própria e natureza da pessoa. Muito se fala em corrupção. Corrupção política, policial, e por aí. Mas todo o ser humano está fortemente corrompido por ideais modernos que em anda nos ajudam a viver de forma mais pacífica e feliz. Criam problemas sociais sem solução até. Todos somos corruptos de coração a partir do momento que decidimos ir a algum lado porque os nossos seguidores vão ficar a salivar. Ou todos somos corruptos a partir do momento que somos os “maiores” do nosso grupo de amigo porque mudamos de telemóvel sempre que sai um novo iPhone.

Atenção, não quero que pensem que tudo é movido por “o que conta é o que está por dentro”, algo infantil de se dizer. E muito abstrato, diga-se de passagem. A minha profissão é artística e à partida tenho de fazer esforços para investir na notoriedade da carreira ou da minha companhia de teatro. É uma notoriedade que não vem de um legado que me foi livremente dado, é notoriedade que vem de muito suor e sacrifícios monetários e pessoais, meus e de colegas que partilham esta jornada. É isso que gera a diferenciação entre os seres humanos: o amor que damos às coisas. Às coisas familiares, amorosas, profissionais, solidárias, e por aí em diante num caminho magnífico que todo o ser humano é capaz de traçar durante a sua vida. Ou pelo menos devia ser.

Estamos longe dos dias em que a letra do tema musical “As Time Goes By” (do filme “Casablanca”) fazia sentido, mas gosto de pensar que tudo no mundo pode voltar a ser “uma luta por amor e glória”.

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