Tic Tac, Tic Tac, o tempo está a contar.

Tic Tac, Tic Tac, o tempo está a contar. O despertador irá tocar daqui a cinco minutos. Por essa altura, serão sete da manhã. O tempo vira-se contra mim assim que descolo as pálpebras dos olhos. Ligo a água quente da banheira ao mesmo tempo que coloco a mão em concha debaixo da torneira do lavatório para apanhar uma macheia de água. Bochecho a boca com água morna, que se mistura com o resto da pasta de dentes, e cuspo tudo para o ralo. Hoje, não vou ter tempo de tomar o pequeno-almoço em casa. Depois como qualquer coisa no escritório. Não posso chegar atrasada. A reunião só está marcada para as duas da tarde, mas ainda tenho de concluir o relatório. Ah, e acabar a tabela em Excel. Se calhar, também não vou conseguir almoçar. Depois como qualquer coisa, se tiver tempo. O que vale é que o prémio de produtividade, no final do mês, compensa o esforço.

Isto poderia ser o início de um belo conto, daqueles contos rebuscados que encontramos nas páginas dos livros que (não) lemos antes de adormecer (não há tempo). Ou então ser simplesmente a descrição de mais um dia de trabalho no escritório. No meu ou no vosso. Ou no de alguém que conhecemos. A vida anda com pressa e nós vemo-nos obrigados a acelerar o passo para a conseguir acompanhar. Reinventamo-nos constantemente para nos mantermos à tona. Subvertemos premissas e adulteramos prioridades.

Senão vejamos:

Quando pensamos em procurar o primeiro emprego, numa primeira análise, fazemo-lo por uma questão de sobrevivência. Precisamos de dinheiro para viver e as contas não se pagam sozinhas. Só depois vem a ambição. Ambicionamos ter um emprego na nossa área de formação e se isso não for possível ambicionamos, pelo menos, encontrar um emprego em qualquer coisa que gostemos de fazer. Uma coisa é certa: Em qualquer um dos casos, vamos convictos de que iremos trabalhar para viver e não viver para trabalhar.

Contudo, a vida nem sempre se coaduna com o que queremos. Não se ajusta a nós e não é permeável aos nossos desejos e ambições. As ambições, essas, por norma, continuam lá. Escondidas. Vêm à tona sazonalmente, no final de cada ano, quando nos propomos renovar (mais uma vez) os nossos desejos. Mas, infelizmente, na segunda-feira seguinte, o despertador volta a tocar as sete da manhã e constatamos que o tempo permanece contra nós. Que somos o que ele faz de nós e não o que gostaríamos de fazer com ele. E no meio desta azáfama diária a que nos fomos habituando, quando paramos um pouco para pensar; quando, na agrura de uma noite de insónia, a vida nos abana e nos pergunta para onde queremos ir – se ao menos a vida nos tivesse avisado que não iríamos trabalhar para viver e sim viver para trabalhar – começamos a colocar em perspectiva o que vale ou não vale a pena. O que pesa realmente na balança. O que idealizámos ser quando éramos crianças e no que nos transformámos. O que ganhamos em detrimento do (tanto) que perdemos. O que (não) vivemos, o que deixamos de ser, por fazer, o que deixamos de ambicionar e quem deixamos por amar.

É tarde. O sono está finalmente a chegar. Daqui a pouco o despertador volta a tocar.

Tic Tac, Tic Tac, o tempo está a contar. Quem queres ser quando fores grande?

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