Unhas de gel, sobrancelha com micropigmentação, depilação a laser no corpo inteiro, cabelo tingido, corpo escultural, pés perfeitos, vagina lisa e sem marcas, já clareou as axilas? Tirou os pêlos do buço? Os seios estão em pé?
Já viram que há sempre um problema na mulher? Estão sempre a achar defeitos em nós. Através da promoção da ideia de um corpo perfeito e da competição entre mulheres acabamos acreditando que precisamos mesmo sempre estar num padrão para sermos aceites e amadas e é dessa insegurança que nasce todo um mercado que lucra com isso.
E lucra das formas mais inacreditáveis, se há vinte anos atrás os cremes antirrugas eram sucesso isso ficou no passado, depois deles já tivemos o silicone e o botox, a rinoplastia e várias outras cirurgias faciais e corporais que foram inventadas para lucrar com nossa insegurança.
Semana passada eu vi uma blogueira ficar feliz pois faria um procedimento de raspagem na testa pois queria diminuir ela e assim ter um ar mais feminino. Essa semana uma amiga abismada me mandou a foto do cartão de um salão que oferecia harmonização genital para mulheres e ontem mesmo recebi um anúncio para procedimento cirúrgico que deixa os nossos pés mais apresentáveis.
Tem mulheres operando o pé por estética.
Há muito venho lutando contra a sociedade e seus argumentos que colocam sempre mulheres em confrontos com elas mesmas e com outras promovendo desavenças e competições. Eu entendo quem não esteja feliz com seus poucos seios e queira ter uma barriga reta e recorra a uma cirurgia para o conseguir, mas a pergunta aqui é: Você não está feliz com seu corpo ou te ensinaram a não gostar do seu corpo?
Recentemente no Brasil uma blogueira de 26 anos chamada Liliane Amorim morreu devido a complicações de uma lipoaspiração, ela nem precisava de uma lipoaspiração, mas a busca pelo padrão e os comentários diários sobre seu corpo levou sua vida.
Assim como Liliane diversas mulheres diariamente se colocam em risco e se submetem a cirurgias que não precisam e que tem como única finalidade a busca por algo inalcançável pois, diariamente a sociedade diz e reforça que elas precisam daquilo.
E não só as indústrias mas os homens também lucram e muito com nossa insegurança pois o argumento das traições é quase sempre o mesmo: Eu trai pois você não se cuida, trai porque você engordou, trai porque você não se vestiu sensual. Trai porque você dá mais atenção ao nosso filho do que a mim.
Como se a mulher fosse a culpada por um desvio de carater dele e a sociedade ao redor aprova isso. Com certeza você já ouviu de alguma amiga dizer que a outra perdeu o marido pois não dava atenção, não cuidava, não se arrumava. Quantas vezes você já ouviu a frase “Quem não dá assistência perde para a concorrência” ser dita para homens? Eu nunca ouvi.
Há uma indústria e uma sociedade inteira que lucram com a insegurança das mulheres pois assim nos mantém submissas e prisioneiras nesse sistema patriarcal e machista e, por isso quero convidar a você que leu até aqui a refletir sobre o que te incomoda no seu corpo e se perguntar se isso realmente te incomoda ou se o que te incomoda é o que a sociedade diz.
Quando os movimentos feministas defendem o direito de ter pêlos nas axilas, pernas e qualquer outra parte do corpo, não estão dizendo que você é obrigada a ter e sim que você deveria ter o direito de escolher e não ser julgada, taxada ou pressionada pela sociedade que todos os dias arruma um novo defeito para as mulheres.
Amar-se como se é, não é fácil já que o processo é árduo e demorado. Hoje eu sei que não ter coragem de tirar foto de biquíni é algo que precisa ser mudado na minha cabeça e não no meu corpo.