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This is Us

Apesar das comédias familiares serem uma constante no mundo das séries, é extremamente difícil de fazer uma série com 22 episódios por temporada só centrada num drama familiar.

As famílias tradicionais e não tradicionais são elementos com os quais nos relacionamos com muita facilidade e, como qualquer um que tenha uma família sabe, estão repletas de oportunidades para nos servirem um buffet de exploração emocional. Porém, os canais de televisão preferem abordar este tipo de séries como se fossem policiais (como Blue Bloods), ou transformar uma família real numa metáfora televisiva (Friday Night Lights) ou ainda colocar o drama familiar como elemento central num género televisivo mais comercial (Designated Survivor), mas até esses são relativas raridades.

This is Us não é propriamente um drama familiar. É um drama em que os seus personagens estão ligados por pontos comuns, especificamente sobre um grupo de pessoas que partilha o mesmo dia de anos, mas este é apenas um ponto de ligação e não o essencial da série. Eles, ao contrário dos trillers, não são especiais por isso, nem vão salvar o mundo ao encontrarem-se todos numa cidade qualquer do mundo.

As personagens de This is Us não têm super-poderes (um terço da audiência deste artigo acabou de fechar o browser), eles não sabem artes marciais ou investigam crimes (outro terço da minha audiência para de ler) e não vivem em Chicago (todos os fãs do franchising Chicago Fire ficam confusos). São pessoas normais a viverem uma vida muito normal, mas com um certo nível de privilégios financeiros, o que, provavelmente, terá feito os seus criadores terem estruturado a série como se fosse uma adivinha, pautando o episódio de estreia com algumas revelações e um twist final. A estrutura do episódio-piloto faz com que queiramos ver a série até ao fim, mas é a forma como este primeiro momento foi imbuído de coração, humor e de excelentes interpretações que nos prende por completo à televisão.

O grande acontecimento que une todo o episódio-piloto é um aniversário que é marcado por acontecimentos muito importantes para as nossas personagens principais. O adorável casal, Jack (Milo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore), estão a preparar os seus tradicionais rituais para o aniversário de Jack, quando Rebecca entra em trabalho de parto dos seus trigémeos. O bem-sucedido homem de negócios Randall (Sterling K. Brown) escolhe este dia para confrontar o pai (Ron Cephas Jones) que o abandonou no seu nascimento. A estrela de televisão Kevin (Justin Hartley) usa o seu 36º aniversário para reflectir sobre a sua carreira, enquanto ajuda a sua irmã Kate (Chrissy Metz) a ultrapassar um dia difícil em que é confrontada com os seus próprios falhanços.

Cada uma das linhas narrativas começa de forma autónoma e funciona como uma pequena parte de uma maior história, em que cada uma tem um género televisivo próprio. Temos o drama médico com Jack e Rebecca, com conta ainda com a participação de Gerald McRaney a interpretar um gentil, mas realista médico. Temos a sátira a Hollywood com as cenas nos bastidores da sitcom de Kevin, que também contou com um convidado muito, muito especial. O dia de Kate começa triste, mas acaba por se tornar numa homenagem a Mike & Molly, quando conhece um homem (Chris Sullivan) num grupo de apoio a pessoas com problemas alimentares. Tal como em Crazy, Stupid, Love, o nosso jogo mental começa no momento em que tentamos perceber como e quando as personagens irão cruzar.

Na história com mais nos prende ao ecrã, Mandy Moore e Milo Ventimiglia conseguem ter uma química muito querida e engraçada, mas também são capazes de criar a intensidade necessária para que as cenas no hospital nos retirem o fôlego, enquanto que Gerald McRaney nos deixa rendidos com um dos melhores monólogos televisivos dos últimos anos (aliás, este actor foi tão bom nas poucas cenas que teve, que fiquei genuinamente feliz por saber que ele regressaria para mais episódios). Sterling K. Brown, irreconhecível para quem acompanhou People v. O.J. Simpson, demonstra todo o seu brilho como actor ao representar de forma irrepreensível com Susan Kelechi Watson e Ron Cephas Jones. Também gostei do ex-Smallville Justin Hartley, que soube dar um toque de comédia à sua personagem que muito facilmente poderia se tornar num cliché.

Chrissy Metz, infelizmente, acaba por ter a história mais fraca do piloto todo. Ela consegue ser convincente e permite-nos sentir compaixão para com a luta da sua personagem, mas acaba por ter uma caracterização demasiado ligada aos seus problemas de peso e de uma forma frustrantemente estereotipada. Depois acaba por ser lançada para um romance com Toby, uma personagem que, com a sua introdução caótica não nos permite ter o mesmo tipo de ligação que acabamos por ter com as outras personagens. Contudo, nos episódios que se seguem, Kate tem a oportunidade de demonstrar mais da sua personalidade, estando presente em histórias que não se centram apenas na sua luta para não comer tanto e cair de balanças. São nessas histórias que tanto a personagem, como a sua actriz irão brilhar.

This is Us e as várias revelações e ligações que são reveladas nos últimos 10 minutos do episódio-piloto dificilmente voltaram a ser replicadas em episódios futuros, não voltando nenhum de nós a viver a mesma montanha russa de emoções que vivemos neste episódio. No entanto, a construção do primeiro episódio permite-nos perceber que esta série irá fazer-nos rir e chorar e que é nas interpretações de Brown, Ventimiglia, Moore, Hartley, Metz e do resto do elenco que a série irá conseguir construir a sua genuína identidade.

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