Vivemos diariamente numa sociedade multifacetada de personagens, que se debatem de dilemas, conflitos internos entre o dualismo persistente do “bem e do mal” e a exploração de temas universais que nos afetam todos, de forma direta ou indiretamente quando questões de moralidade, lealdade, valores e poder se colocam em questão.
A série policial “The Gentlemen”, é um “spin-off” do filme com o mesmo nome que foi lançado em 2019 e que podemos encontrar na plataforma da Netflix. É uma minissérie policial de 8 episódios que descreve de forma muito intimista na voz das personagens “perturbadoras”, o submundo do crime e a forma como este interage com as estruturas de poder, evidenciando temas como a corrupção, a ganância e as lutas por poder e controle de “territórios”.
Nesta série assistimos a uma sociedade atual que conhecemos bem, em que a desconfiança no poder das instituições e a incessante busca do poder pelo poder se sobrepõem aos valores éticos. “The Gentlemen” oferece na mestria cinematográfica do seu diretor e co-criador da história, Guy Ritchie, conhecido pelos filmes intensos e de alguma violência verbal e física, uma visão provocadora sobre a complexidade do mundo, isto é, do submundo em que vivemos.
“Os senhores do crime”, título traduzido de “The Gentlemen” temporada 1, apresenta um conjunto de personagens cujas motivações refletem a ambiguidade moral e que espelham precisamente muitas das pessoas que nos rodeiam.
Apresenta um enredo bem construído, de abordagem muito visual, numa Inglaterra dos nossos dias, que ainda vive da imponência das chamadas “Manor Houses” de Duques que perpetuam um legado familiar de títulos de família e que controlam com rigidez e até com “mão pesada” toda a comunidade ao redor.
À medida que vamos conhecendo a história, através de uma narrativa não muito linear, com avanços e retrocessos temporais, vamos assistindo à trama principal e a subtramas que se entrelaçam no decorrer dos episódios, deixando o espectador cada vez mais cativado e interessado pelo desenrolar desta história.
Esta narrativa que pode ser a história de qualquer um de nós começa quando Edward “Eddie” Horniman, o 13.º Duque de Halstead herda, por morte do pai Duque de Horniman, uma enorme propriedade da família, o título de Duque e descobre que na mesma está presente uma organização criminosa que se dedica ao cultivo de canábis e outros alucinogénios através da personagem Susie Glass, que assume a chefia desta organização, enquanto o pai Bobby Glass está na prisão. Edward precisa de proteger a casa, a família de toda a atividade criminosa de terceiros e permanecer vivo perante os perigos, conflitos, traições que se vão apresentando durante too o drama.
Se, por um lado, convivemos com revelações sobre o passado, por outro deparamo-nos com confrontos. Eddie pretende a todo o custo fazer o certo e não o errado, mas para conseguir atingir o objetivo, percebe que para vencer tem de se juntar aos “criminosos” e perder os valores do politicamente correto.
Eddie assume o papel de Duque de Horniman e, embora procure expulsar a organização de gângsteres e a produção de canábis fora da propriedade, vai tomando gosto à sua vida dupla de grande proprietário rural e, também inevitavelmente de traficante de canábis, vivendo momentos conturbados e diria até de humor negro com as peripécias que se desenvolvem ao longo dos vários episódios.
Nem sempre os fins devem justificar os meios, bem como perder-se valores de ética moral para se atingirem determinados objetivos e contrapartidas financeiras.
A personagem Eddie debate-se num conflito de dúvidas, de interesses e sente que, para vencer os “inimigos”terá
de vencê-los no seu próprio jogo e assumir a postura do ter que fazer sem outras opções.
Deixo o convite para seguirem esta minissérie, descobrirem cada umas das personagens e viverem uma história comum que pode acontecer a qualquer um de nós. Está prevista uma segunda temporada, mas ainda sem data definida.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico