Sing me a song of a lass that is gone. Say, could that lass be I?

Se me perguntarem qual o super-poder que gostaria de ter, provavelmente responderia viajar no tempo. Gosto do exercício de tentar transpor os tempos e imaginar como tudo era anteriormente, as cidades, paisagens, hábitos e gentes. É um recurso da imaginação que faço com frequência e que verdadeiramente me fascina, por isso mesmo, não é de estranhar que Outlander me maravilhe especialmente.

Lançada em 2014, chegou a Portugal em 2015.

Começa em 1945, nas idílicas paisagens escocesas, com a acidental viagem ao passado da enfermeira Claire Randall (Catriona Balfe) que regressa a 1743. 

Claire encontra um grupo de escoceses das Terras Altas, os rebeldes do Clã Mackenzie, que são perseguidos pelos soldados britânicos, os quais são liderados pelo capitão Jonathan “Black Jack” Randall, ancestral do marido de Claire, Frank Randall (Tobias Menzies). 

Uma mulher sozinha, num bosque e vestida de forma bastante peculiar, rapidamente levanta suspeitas, especialmente se pensarmos que estamos em 1743. Por necessidade, Claire acaba por casar logo no inicio da primeira temporada, com o jovem James Fraser (Sam Heughan). O casal rapidamente se apaixona e à medida que os episódios decorrem e que a trama adensa, o espectador acaba ele mesmo por ser conquistado pela química inegável e pela excepcional forma como as duas personagens são construídas, não nos restando outra opção senão torcer pela sua felicidade.

Claire é uma enfermeira da Segunda Guerra Mundial e Jamie um bravo guerreiro, membro de um clã escocês e herdeiro da sua própria linhagem. Apesar das óbvias diferenças, as duas personagens são retratadas de forma bastante progressista, sendo Claire uma mulher forte, ciente da sua voz e da sua vontade, enquanto Jamie, homem rústico, flexível e determinado, duas personagens fortes por si só, que juntas inspiram e mudam mundos. Há amor, paixão e respeito pelas diferenças de cada um, numa relação em que a ciência avançada de Claire, contrasta com a história dos clãs e as tradições tão precisas de Jamie e da sua Escócia do Séc. XVIII. 

Mesmo que no inicio, Outlander nos pareça mais uma história de amor, no decorrer dos episódios revela-se muito mais que isso. É uma história muitíssimo bem construída e representada, que nos apresenta a mulher enquanto mero adereço numa sociedade violenta e machista, em que o simples facto de se ser diferente ou pensar fora da norma poderia ser um claro risco à segurança. Em que os avanços médicos fazem o paralelismo com o papel da curandeira, a violência e o sofrimento num momento histórico em que não se olha a meios e escrúpulos para se atingir os fins, que colidem diretamente com a nobreza de valores e gestos. E por fim, claro, o amor. O amor forte e improvável que inspira e transforma, que tudo corrige, perdoa e faz esquecer.

No decorrer dos episódios, são fielmente retratados inúmeros acontecimentos históricos da Escócia, Europa e, nas temporadas mais recentes, dos Estados Unidos. Acontecimentos que harmoniosamente se interligam com as aventuras pessoais das complexas personagens da história. Da causa Jacobita à Batalha de Culloden, passando pela ida para a América, acompanhamos o crescimento das personagens e a sua evolução, à medida que cada uma vive e desenvolve os seus dramas e aventuras pessoais, abordando alguns assuntos atuais e com os quais nos conseguimos facilmente identificar.

Sendo do domínio do fantástico e do impossível, é na banalidade dos assuntos mundanos que está muita da magia de Outlander. Os flashbacks que nos ajudam a compreender a história e que nos levam eles mesmos para essa viagem no tempo, a crueldade dos acontecimentos e a força de um amor que ultrapassa todas as barreiras e obstáculos.

Já vai para a sexta temporada, mas, enquanto a nova temporada não chega, aproveite para ver ou rever esta bela história e embarque numa viagem no tempo, que tanto nos ensina sobre o amor, a coragem, a superação e a força de carácter. 

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
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