Recompensem o trabalho e não a riqueza.
– Oxfam
No outro dia, a minha filha de 5 anos, na sequência de uma conversa, comentou: “Nós não podemos ser ricos, porque, se formos ricos, as outras pessoas ficam sem dinheiro para comer”. Fiquei surpreendida, confesso. O primeiro impulso foi dizer que não é bem assim (pelo menos no nosso caso), mas pensei em grande escala e talvez ela tenha razão. Todos sabemos que nos países mais ricos o consumo é tão exagerado e o desperdício é tão grande que daria para alimentar uma grande parte dos países considerados pobres.
Num relatório de uma organização não governamental (Comissão de Combate à Fome de Oxford) é referido que 1% da população ficou com 80% da riqueza e que o número de milionários aumentou seis vezes, desde 2010, muito mais do que os salários pagos aos trabalhadores (nem chegou aos 3%/ano). Já sabíamos que havia gente a enriquecer à custa dos trabalhadores, mas o surpreendente é a proporção. As pessoas que mais trabalham não são as que usufruem da riqueza que o seu trabalho gera. Sim, temos noção disto, mas será que temos mesmo consciência da dimensão desta questão?
Eu acredito que podemos ganhar todos de forma justa. Talvez seja utópico, mas vejamos o exemplo dos bons empreendedores em Portugal (e não só): compensam os seus trabalhadores pelo trabalho e partilham a riqueza gerada. Desta maneira ficam todos as ganhar e os trabalhadores ficam motivados e têm maior rentabilidade e apresentam melhores performances. Algumas empresas já começam a funcionar desta maneira, é certo, mas a mudança tem sido demasiado lenta: é mais comum um gestor ou dono de empresa a culpar os seus trabalhadores pelos maus resultados, do que ao contrário. E enquanto a maior máquina (Governo) não mudar, desconfio que as restantes mentalidades não mudem.
Eu acredito que o maior exemplo tem que vir do Governo. Se o nosso país fosse visto como uma grande empresa, poderíamos dizer que os considerados “gestores de topo” ou CEO (Chief Executive Officer) preocupam-se mais com o poder (e interesses pessoais) do que com os que trabalham arduamente e que se esforçam diariamente. E sabemos que isso é só mais uma maneira de nos mantermos no fundo do poço. É como se eles nos tivessem tirado a escada para não deixar que muita gente possa subir o degrau: é mais fácil controlar e manipular pessoas com dificuldades financeiras! E nem mencionei a tão conhecida desigualdade de género (neste estudo só 1 em cada 10 pessoas que fazem parte dos 1% é mulher). Num panorama geral, dá jeito que 1% da população do mundo detenha 80% da riqueza porque com a riqueza vem o poder e se todos tivéssemos este tipo de poder que mudanças veríamos no mundo?
Teorias de conspiração à parte: acho que não é difícil de entender que quanto melhor estiver um indivíduo, melhor estará o grupo.
Se calhar, de uma maneira ou de outra sentimo-nos todos de mãos e pés atados: vamos fazendo o melhor que podemos tendo em conta as circunstâncias que vivemos. Uns sobrevivem, outros vivem e outros abusam e usufruem do trabalho e esforço alheio.
Na minha opinião, é essencial apostar na educação: temos que formar os futuros adultos para ter inteligência financeira e compreenderem que todos fazemos parte de um todo (e do mesmo) e que por isso temos todos, em todas as áreas das nossas vidas, igual valor.