Meditação o sítio onde o ocidente e o oriente se encontram

Todos os seres humanos partilham uma luta comum, o controle da mente. No oriente encontraram a meditação para conseguir trazer ordem a este mecanismo invisível e misterioso, e o ocidente, muitos milénios depois, adaptou a prática dando-lhe o nome de Mindfulness.

Os livros sempre ajudam e eu fui buscar um livro que me ofereceram aquando de uma viagem à Índia, e fui buscar um outro livro, comprado em Portugal, de uma autora britânica. Fiz esta escolha, porque quis misturar os dois mundos e trazer luz sobre a prática que pode mudar o mundo de dentro para fora, a meditação.

As diferenças começam logo pelo encadernamento dos dois livros, denunciando assim que dentro de cada um as informações terão as suas próprias identidades. 

O livro oriental tem uma capa de fundo vermelho e a imagem de duas mãos em meditação, a imagem é impactante, porém não é apelativa, sendo o seu interior denso em informação. Na verdade, à primeira vista pode ser considerado um livro massudo comparado com o outro livro ocidental de capa com fundo azul céu pintado a aguarela, com o desenho de três bonitas árvores que só pela capa já dá vontade de o abrir. Uma vez aberto, encontramos uma mistura de texto com desenhos que se revelam muito motivadores para os exercícios que são propostos.

Só por aqui, já dá para perceber que a meditação no oriente é uma prática corrente, e levada a sério, mas no ocidente ainda precisamos ser convencidos de que meditar não só é divertido, como também muito benéfico. O livro ocidental cumpre a sua proposta de abrir a mente do leitor a essa nova possibilidade. 

Ao ler os dois fica claro que com o primeiro livro (oriental) sentimo-nos julgados (e ainda bem, pois o apontar de dedo é muito pertinente), e no segundo livro (ocidental) sentimo-nos amparados e motivados. Ou seja, a leitura dos dois é essencial, pois um não invalida o outro, isto porque o livro ocidental traz a leveza à prática de mindfulness que o livro oriental obriga a fazer como meditação, sob a premissa de que ninguém quer continuar a ter uma “shallow life” (vida superficial) o autor (P. J. Saher) obriga o leitor a repensar o seu estilo de vida agora inequivocamente supérfluo.

P. J. Saher, põe o dedo na ferida quando afirma que eventos extraordinários nunca podem ocorrer com uma pessoa mediana, pois falta-lhe o entusiasmo para viver os desafios da vida com o propósito da sua evolução. A pessoa mediana é caracterizada por viver no piloto automático, apenas questionando o porquê dos problemas lhe acontecerem sem questionar a sua responsabilidade evolutiva no próprio acontecimento. 

Confuso? A autora ocidental (Anna Black) põe panos quentes e explica os benefícios da consciência do momento presente dizendo exatamente o mesmo que o P. J. Saher, mas na leve forma ocidental, dizendo, e passo a citar “trazer consciência às chamadas atividades de rotina pode imbuí-las de um novo interesse e energia. Quando prestamos atenção, descobrimos todos os tipos de coisas que normalmente nos passariam despercebidos e, quando estamos interessados, estamos envolvidos e conectados, em vez de estarmos desinteressados, aborrecidos e desligados”. 

Curiosamente os dois tipos de meditação que as duas obras falam não referem somente a meditação em que a pessoa está parada, com uma respiração coordenada e atenção plena às suas emoções, e desapegada dos seus pensamentos, as duas obras convidam à atenção plena a cada atividade da sua vida, e a estar verdadeiramente presente em cada evento do seu dia-a-dia. Até nisso as duas obras estão de acordo e explicam os benefícios que ocorrem não só na vida das pessoas, mas nas alterações que se verificam nas características físicas como a desaceleração do ritmo de diminuição da substância cinzenta que geralmente ocorre com a idade. Anna Black dá até o exemplo de um grupo de controlo de pessoas que meditam, em que os exames mostraram que a espessura da substância cinzenta de uma pessoa de 50 anos era similar à de uma pessoa de 25 anos.

Os dois autores defendem o exercício da meditação não apenas como uma prática, mas antes como um estilo de vida, em que a atenção plena que temos quando nos sentamos com a intenção de meditarmos por 30 minutos seja a mesma atenção plena que temos a tudo o que fazemos a todas as horas do dia. 

A defesa deste estilo de vida revolucionário, numa sociedade globalizada e que vive em velocidade supersónica, assenta nos benefícios que traz para o ser humano como a autora Anna Black enumera e passo a citar:

  • “Diminuição da atividade de ruminação (ciclo de pensamento repetitivo)
  • Redução da ansiedade
  • Redução dos níveis de stress
  • Aumento da empatia
  • Aumento da Auto compaixão
  • Maior capacidade para lidar com emoções difíceis
  • Aumento da felicidade
  • Melhoria da qualidade de vida”

Não dá para dissociar os pensamentos da mente, e o autor P. J. Saher explica que a mente é invisível ao contrário do cérebro que é visível, mas é possível observar impulsos ou impactos na substância cinzenta que são chamados os pensamentos, estes também invisíveis, porém, esses pensamentos agrupados formam o que nós chamamos de mente humana. Isto é, o controlo dos nossos pensamentos, é o controlo da nossa mente, e a forma de não ficarmos reféns de mecanismos criados e aprendidos ao longo do tempo que mais contribuem para os nossos comportamentos evitativos do que para os nossos comportamentos evolutivos.

Um estilo de vida deste género exige que nada seja feito com pressa como nos pede o autor P. J. Saher e para se atingir essa desaceleração a meditação é a ferramenta que nos conduz à evolução e à paz. 

A meditação é a prática que pode mudar o mundo, porque muda o indivíduo e beneficia toda a sociedade.

O ocidente e o oriente encontram na meditação o caminho do meio onde todos podemos andar pacificamente. 

 A prática da meditação vai muito além da realização de vários exercícios, mas propõe-se ser um estilo de vida, até porque uma pessoa que encontra a paz, mesmo em desafio, é uma pessoa que já não vê na força e na razão uma forma de resolução de problemas.

A meditação possibilita a responsabilização pessoal na sua própria vida e essa responsabilização permite a tão desejada mudança de vida. Por isso, a meditação promete mudar o mundo a partir de dentro para fora, e não o contrário.

Acredito que a meditação pode ser em simultâneo, o desafio  e a resposta.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.

Fontes: P. J. Saher “Zen-Yoga, A creative psychotherapy to self-integration”, Motilal Banarsidass Publishers

Anna Black, Um ano a viver com Mindfulness, Programa de meditação semanal, para uma vida mais feliz e preenchida, Circulo de leitores

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