Quem és tu quando te despes do ter

Quando te vês confinado a quatro paredes por tempo indeterminado, despido de tudo o que é acessório, sem social, sem consumos superficiais, sem máscaras, e te contemplas ao espelho, o que vês?

Tem a coragem de te olhares nos olhos e segura firme o reflexo.

Vai criar desconforto, vais tremer, provavelmente até vais soluçar, mas vais ter de levar contigo mesmo durante longas semanas. Sem clichês, preto no branco.

Se a vida te obrigou a uma prisão voluntária, aproveita para um mergulho interior. Faz um balanço da tua vida.

Esta pandemia veio demonstrar que somos instantes neste cosmos. Hoje estamos, amanhã é um adeus.

Volta à tua criança interior, vê se te perdeste no caminho e encarrilha.

Um dos filmes da minha vida é o Clube dos Poetas Mortos. Se não viste, coloca na tua bucket list.

Há um momento, logo no início, em que o professor leva os estudantes à sala dos antigos alunos, onde estão afixadas várias fotografias e diz:

– Vocês estão a ver estes retratos?

– Os jovens que estão nestes quadros, planeiam revolucionar o mundo e transformar as suas vidas em algo de grandioso. Isto foi há 70 anos. Agora estão todos mortos. Quantos tiveram uma vida realmente feliz? Quantos realizaram os seus sonhos?

Então, o professor inclina-se para o grupo de alunos e murmura para que todos o ouçam:

– Aproveitem os vossos dias. Vivam o presente. Confiança é saber que somos limitados, que não podemos adivinhar o que está por vir. Que jamais controlaremos todas as possibilidades e que a nossa única saída é viver intensamente a realidade, seja prazerosa ou menos boa. Tornem as vossas vidas extraordinárias.

Sinceramente acredito que, nestes meses sabáticos, vamos redescobrir a nossa beleza interior.

Que consigamos voltar a sorrir com os olhos.

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