Diariamente somos confrontados com números avassaladores de mortes decorrentes desta pandemia. Indivíduos que são cremados ou enterrados sem direito a velório nem despedidas.
Dá-me um nó na garganta ao pensar nestas pessoas, no leito das suas camas, num hospital, no anonimato, sozinhas, sem poderem elas próprias honrar as suas existências e os seus afectos. De seres humanos passam a números quantificáveis num telejornal.
A verdadeira dimensão do que é vulnerabilidade e finitude fica tão transparente. Somos poeiras cósmicas, somos instantes.
Estamos hoje despidos de todas as roupagens e estatuto socioeconómico. Este vírus é transversal à sociedade.
Vivemos até agora como se fôssemos imortais e, de repente, caímos de joelhos e temos uma espada sobre a cabeça.
Abrimos a caixa de Pandora e será que a esperança nos vai salvar de nós mesmos?
Quero ter fé que sim. Que nos tornemos mais humildes perante a enormidade e a fragilidade da vida. Que saibamos calçar os sapatos do outro e como Abraham Lincoln afirmou e tão bem: “Que a única vez que olhes de cima para baixo para alguém, que seja para ajudar essa pessoa a levantar-se.”