They laughed at me. Hold me, Mama. Please hold me.
– Carrie
“Carrie” é já uma marca no mundo dos filmes de terror e não há altura melhor do que esta época de Halloween para dissecarmos as 3 adaptações feitas em cinema da famosa obra de Stephen King.
Vou começar por explicar a breve premissa da história e depois expor a minha visão sobre cada filme. Terminarei com uma breve reflexão sobre as perspectivas das três versões.
Esta obra conta a história de Carrie White, uma jovem adolescente que é gozada por todos na sua escola e que se apercebe que tem o poder de mexer objetos com a sua mente.
Carrie (1976) – Brian de Palma
Esta é a versão original em cinema e para muitos ainda a melhor, sendo considerado um clássico do género. Na minha opinião é um ótimo filme que é de terror mas que é, acima de tudo, sobre O terror.
O filme apresenta-nos logo um cenário de Carrie “contra” o resto da sua turma numa cena de balneário que era digna de um clímax do filme. Acho que o filme peca por aí, o filme vai nos sempre apresentado coisas horripilantes e por isso quando as coisas horríveis do clímax acontecem não criam tanto impacto porque já vimos aquele tipo de cenários e reações antes, ainda que num panorama menor.
O filme tem um charme conferido pela atmosfera deste tipo de películas que representam as escolas nos finais dos anos 70. Algumas personagens são demasiado unidimensionais principalmente os vilões mas ainda assim resultam. Duas personagens que resultam muito bem são Tommy e Sue, um casal que cria alguma ambiguidade se estão a tentar ser amigos de Carrie e que acabam por ser as personagens com maior desenvolvimento para além da protagonista. Outras duas personagens essenciais são a mãe e a professora de Carrie, as duas são polos opostos do apoio que Carrie procura. A mãe tenta constantemente limitar a sua liberdade e a professora Miss Buckley quer que Carrie consiga explorar novos mundos e libertar-se do bullying dos seus colegas.
Sissy Spacek consegue de uma forma muito natural transmitir todas as sensações que a personagem pede. As cenas finais são de uma ótima cinematografia e a última cena mesmo é poderosa. Brian de Palma conseguiu de uma forma fiel trazer a primeira obra de Stephen King para a tela, e o próprio Stephen disse que adorou o filme e que preferiu o final ao do próprio livro .
Nota: 8/10
Carrie (2002) – David Carson
Uma visão muito própria e única do livro de Stephen King, de certa forma é o mais fiel das 3 versões feitas, mas por outro acaba por ser o menos fiel e explicarei esta afirmação mais à frente.
Para começar dizer que não adorei o aspeto “televisivo” que o filme teve, é verdade que o filme foi feito para televisão, mas para alguém que já viu muitos filmes “de cinema” e muitos filmes “de televisão” este aspeto faz parecer tudo um pouco mais amador.
Angela Bettis faz um trabalho competente ainda que algo monótono e preferi a interpretação feita em 1976 por Sissy Spacek.
Existiram três aspetos que preferi relativamente à versão de 1976 : O facto da história ser contada em flashbacks pelas personagens adicionou um tom de mistério e intriga que não existia no primeiro, porque aqui nós já sabemos que algo terrível aconteceu e estamos num paralelo em duas linhas temporais a descobrir o que foi que aconteceu afinal, uma técnica muito usada por outros filmes também. O segundo foi a importância que é dada a Sue durante toda a história, penso que a interpretação de 1976 centra-se demasiado na professora e na mãe de Carrie e deixa Sue de lado esperando que nós no final possamos dar uma importância à personagem que o filme em si não justificou, aqui Sue é quase tão central como a própria Carrie e gostei da vertente de quase parceria entre as duas.
O terceiro aspeto foi a banda sonora que acho que encaixou melhor neste cenário de escola, e claro que com músicas e sonoridades que nem sequer estavam perto de ser inventadas em 1976. As atuações foram competentes no geral e proporcionaram duas boas horas de filme.
Disse em cima que esta adaptação conseguia ser a mais fiel e a menos fiel ao mesmo tempo e passo a explicar : Por um lado toda a questão das entrevistas aos sobreviventes e o facto de ser contado em flashbacks tornou-o o mais fiel e esta forma de contar a história muda o filme como um todo. No entanto na tentativa de criar um final aberto para o início de uma série (que nunca existiu) o filme tem um final muito “arriscado” e que vai contra o proposto em todas as outras versões.
Continuei a preferir a de 1976 por uma atmosfera mais arrepiante, pelo aspeto cinematográfico em si e a interpretação principal mais forte mas aprecio o esforço e acho esta uma versão muito respeitável e importante principalmente pela forma como conta a história.
Nota: 6.5/10
Carrie (2013) – Kimberley Peirce
Uma competente adaptação da obra de Stephen King, embora tivesse sido a que menos preferi das 3 versões existentes. O que gostei nesta adaptação? Bem…existem vários elementos que são adaptados à realidade atual e fizeram isso com muita competência, esta história não se passa nos anos 70, passa-se nos dias de hoje e por isso foi importante adaptar alguns elementos de bullying como postar vídeos na internet e usar estas tecnologias para criar uma maior ansiedade em Carrie, que era algo que nas versões anteriores nunca foi tema. Juliane Moore entregou a atuação mais afincada e violenta das 3 mães de Carrie em cinema e é sempre um gosto ver a atriz.
Considero o filme inferior às outras versões em praticamente tudo o resto, começando por algumas escolhas de casting questionáveis. Chris é suposto ser a grande vilã e a mais “bonita” no entender convencional da sociedade de beleza e aqui claramente que deram esse papel a Sue, Sue no primeiro filme é muito ignorada que foi um erro muito bem corrigido no segundo filme, mas aqui sinto que a imagem dada pertencia a Chris e o visual de Chris seria mais da Sue, acho que uma troca entre as atrizes tinha feito uma enorme diferença.
Ansel Elgort (que se estreia aqui em cinema) mostra enorme inexperiência e dá a pior versão de Tommy Ross que Carrie já viu, é uma atuação meio “embrulhada” e incoerente em tom. Chloë Grace Moretz é competente e é de facto uma adolescente, ao contrário das atrizes que a interpretaram antes que tinham claramente acima de 20 anos.
Uma das coisas que menos gostei nesta versão é como Carrie parece ser uma espécie de “super-heroína” que parece fazer as coisas que faz com as suas mãos e expressões faciais, penso ter sido uma péssima escolha, tudo foi muito mais forçado e criou de certa forma a ideia que Carrie era simplesmente uma pessoa má e vingativa, quando nas versões anteriores Carrie estava simplesmente em transe e as coisas aconteciam sem que esta as conseguisse evitar. Ainda assim, uma versão competente, que consegue trazer os temas escritos décadas antes para o mundo atual , mas inferior, na minha opinião às versões que a antecederam.
Nota: 5/10
Conclusões Finais
É uma experiência muito interessante ver 3 versões da mesma história com interpretações distintas e escolhas peculiares de cada um dos realizadores. Encontrei-me a “preferir coisas aqui e acolá” em cada uma das versões e se fosse eu a fazer o filme provavelmente iria escolher diferentes secções de cada filme para fazer o meu filme ideal. É isto que é tão mágico na arte e na sua subjetividade. Apreciei como a atmosfera dos 3 filmes foi muito diferente e teve o seu próprio charme.
A versão de 1976 foi a minha preferida pela aura geral e pela direção imaculada de Brian de Palma com ótimas interpretações de todos. A versão de 2002 surpreendeu-me pela positiva e pela forma original como contou a história, é sem dúvida a que mais se distingue de todas as outras e tive pena que o final tivesse sido causado por um projeto previsto para uma série, série essa que nunca aconteceu. A versão de 2013 achei algo dispensável ainda que com as suas qualidades, pareceu-me a mais inferior e até desnecessária das 3, parecendo ser uma adaptação direta do filme de 1976 mas tentando colocar elementos atuais.