A tal linha que separa conformismo de aceitação

A tal linha que separa conformismo de aceitação é bem ténue. É realmente fina e delicada, mas ela existe. Ela separa duas realidades bem diferentes. O conformismo. E a aceitação.

Talvez o desafio nem seja tanto perceber a existência desta linha. Talvez o desafio – e o exercício necessário – esteja em cada um de nós para perceber qual a diferença destas duas realidades. Talvez resida em nós a vontade de perceber quando é uma e quando é a outra.

Todos temos dias “não”. Todos temos dias em que o acordar é mais difícil e o pensar no dia em que temos pela frente tem um peso desmesurado. Todos temos isto. O que – talvez – nem todos tenhamos são as ferramentas e a vontade de ultrapassar isto. Talvez o que nem todos tenhamos é a consciência de que depende de nós – e de muito treino interior – a forma como carregamos este peso desmesurado. Peso desmesurado é peso desmesurado. E ponto final. É uma realidade que vivemos ou que poderemos viver a qualquer momento. É a aceitação a fazer-se notar. A mostrar-se realidade, e a permitir que o conformismo faça ou não parte desta mesma realidade.

Aceitar a realidade é encarar a situação – seja ela qual for – de frente. É, sem filtros, olhar e ver o que realmente se passa. É, sem manhas nem maroscas, olhar duro e cru. É o primeiro passo para a resolução. É a primeira verdade para a verdadeira vontade de perceber que se ali não estamos bem, alguma coisa temos a fazer. É cair, para levantar. O chão desaba, mas sem sabermos bem como, ele lá nos ampara. O trampolim é a vontade. A vontade de querer fazer diferente. De pensar que o conformismo vai deixar-nos no mesmo lugar. O conformismo é aceitar sem nunca tentar. Sem parar para perceber que, no que depende de cada um de nós, se pode fazer alguma coisa para mudar. Por mais pequena que seja. Por mais pequena que possa parecer – e só parece – é possível fazer e mostrar a esse tal conformismo que o conforto é bom, mas que para haver mudança tem que haver desconforto. E se já é desconfortável pensar… O que será fazer?

As fórmulas mágicas existem, mas cada uma tem ingredientes especiais que são destinados a cada um de nós, à essência de cada um de nós. E que, portanto, muitas vezes o que funciona para uns, não funciona para outros. Os ingredientes existem. Basta procurar. Se não for nessa porta, há-de ser na outra. E se não for na outra há-de ser naquela que nunca se imaginou que de lá se haveria de trazer qualquer coisinha. E muitas vezes, nem é a porta o mais relevante, mas sim o momento de lá ir bater. E aqui, a nossa intuição, é determinante.

Pode ser uma conversa com um amigo. Pode ser uma conversa com um estranho. Pode ser no caminho da fé. Pode ser na procura de um terapeuta. Pode ser numa caminhada. Pode ser num respirar fundo e ficar em silêncio. Pode ser qualquer uma destas ou outras coisas. Mas o mais importante é procurar. É tentar e acreditar que o conformismo nos levará a andar numa espiral. E andar numa espiral não nos mostra horizontes diferentes. E eles existem. São precisas ferramentas, poções mágicas, ingredientes especiais e muita – mas realmente muita – determinação, coragem e resiliência para se fazer diferente do que se fez até agora.

E é aqui que conseguimos perceber com mais nitidez, a tal linha, bem ténue, que separa conformismo de aceitação. E o caminho é bem longo. Mas faz-se caminhando. Nem que seja a passo de bebé, porque afinal de contas, é assim que todos aprendemos a andar. Com passos pequeninos que vão crescendo à medida que o tempo passa.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Xeque-mate?

Next Post

O futuro das nossas crianças

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Tudo acabará em ti

“As obras de arte, serão, daqui a quase nada, vestígios” – Nuno Crespo, cronista, Público Ser, na imensidão de…