A Segunda Guerra Mundial foi um momento marcante e talvez o mais importante da história do século XX. O tema pode ser dividido em vários sub-temas, já que o alcance e a importância do que aconteceu, atingiu quase todos os campos da sociedade e, porque não, todos os cantos do globo. Como é natural, a campanha nazi e as suas consequências revelam-se como factor de destaque na Europa. Discutido e explorado através de diversas formas, o regime de Hitler e os seus campos de concentração formam uma marca indelével na literatura europeia e mundial, através de estudos académicos, de ficção, ou em relatos pessoais.
Neste caminho, surge o trabalho de Patrícia Carvalho no jornal Público, onde explora, de forma competente e rigorosa, o caminho de alguns portugueses que passaram pelos campos de concentração do regime nazi. Como a própria autora explica no fim do livro, este trabalho, apesar de não ser pioneiro, no que toca ao tema, é ainda pouco explorado no âmbito académico. De facto, a sociedade civil clama uma sabedoria considerável sobre as experiências de todos aqueles que sofreram nos campos de concentração e extermínio de Hitler, mas poucos compreendem o alcance dos factos. Apesar de Portugal, oficialmente, colocar-se à margem da guerra na Europa, alguns portugueses espalhados por França, pioneiros naquilo que hoje conhecemos da emigração, sofreram as consequências da guerra. Neste trabalho exaustivo de investigação, conseguimos perceber as implicações da moralidade nestes portugueses: numa altura em que a força da razão e da reivindicação eram urgentes, a maioria destes portugueses não fugiram à luta e, por isso, sofreram as atrocidades reservadas aos inimigos do regime nazi. O livro de Patrícia Carvalho é, assim, um prolongamento da investigação publicada, em 2014, no jornal Público, e informa-nos, num texto com claras origens jornalísticas, sobre a origem, caminho e destino de alguns portugueses na primeira metade do século XX.
O livro oferece, também, algum estudo sobre os campos de concentração que receberam mais prisioneiros, num belo, mas difícil trabalho de observação (e absorção) dos factos. Apesar dos relatos de familiares de algumas vítimas, este livro, de teor claramente informativo, está longe do conteúdo oferecido por outras obras de destaque, como disso é exemplo a obra de Primo Levi, um dos sobreviventes do holocausto.
Apesar deste distanciamento lógico, também é necessário perceber que não era esse o objectivo para esta obra. Quanto a mim, com condições para servir até como gatekeeper – deixa muitas pistas para quem quiser e conseguir continuar a aprofundar o trabalho – o Portugueses nos Campos de Concentração Nazis é um bom livro de “iniciação” ao tema, mas preponderante para entender o enorme alcance das políticas seguidas pela Alemanha, na década de 30 e 40, na forma como conseguiu vergar (alguns) europeus à sua vontade.