
Diz, quem conhece, que tudo o que fazemos mostra quem somos. No mais pequeno gesto, atitude ou forma de estar. Que ao mostrarmos quem somos, influenciamos sempre os outros, por mais pequena que seja a nossa atitude.
Todos precisamos de alguém com quem nos possamos identificar. Prova disto é de que o coração se enche de paz e esperança quando nos apercebemos que alguém já passou e superou uma prova difícil, se estamos embarcados numa semelhante. Não nos sentimos tão sozinhos, sentimo-nos mais fortes. Precisamos uns dos outros.
Por isso, a solidão dói e surge em fenómeno nos dias de hoje. De uma forma estranha. Jogos online ou páginas das redes sociais são refúgios silenciosos. Retratamo-nos numa vida paralela que queríamos tanto ser a nossa e mascaramos tristezas. De repente deixamos de estar na sala e viajamos para lugares bem mais interessantes e a percepção vai-nos falhando diariamente. Deixamos de entender que começa a ser muito mais fácil estar entre quatro paredes do que a ligeireza dos espaços amplos.
Digo-vos que a tecnologia me agrada. Muito longe vão os tempos (saudosos) das mesas dos centros de investigação e das bibliotecas, rodeada de livros, sem saber por onde começar na demanda das pesquisas. Neste momento toda a informação está a nenhuma distância. Em caso de dúvida, o bichinho curioso da minha existência é sempre satisfeito à distância de um clique.
As redes sociais também me animam. Reencontro com frequência pessoas que perdi ao longo da vida, mantenho contacto com os que estão longe, motivo-me e conheço eventos que de outra forma nunca iria conhecer, partilho parvoíces e opiniões.
Mas a solidão e controlo que a tecnologia traz, assusta-me. O desfile de vaidades das redes sociais chateia-me. Principalmente porque é fácil cair nele. O nosso melhor e pior surge em grau maior no reflexo da tecnologia.
Não conseguimos encaixar na sociedade se não seguirmos com ela. E o truque é não nos perdermos enquanto nos encaixamos nela.
Dependemos demasiado de um like no Facebook. Comparamos demasiado a nossa vida real com as vidas dos outros quando as vemos reflectidas nas redes sociais. No nosso quotidiano somos incapazes de socializar. Perdemos o jeito. Não sabemos como.
Acho que nos falta descobrir o caminho. O equilíbrio entre ser real e virtual. Entre podermos conversar face to face e não só no Facebook. Entre não precisarmos tanto de um like como se estivéssemos a precisar de amor.
Não me interpretem mal. Adoro a tecnologia. Se não existisse jamais teria a oportunidade de partilhar o que sinto e penso da forma como o faço. Mas que nela reside a tarefa consciente de evolução e não de atraso pessoal e social.
Disse Umberto Eco que “o problema da Internet é que produz muito ruído, pois há muita gente a falar ao mesmo tempo”. Que o tempo que usarmos na internet possa ser aplicado de forma inteligente, que o ruído que possamos produzir seja benéfico e que sejamos inteligentes em distinguir o que é verdadeiro no ruído que chega até nós.