Pensava que os meus pais queriam que fosse feliz!

Eu pensava que os meus pais queriam que eu fosse feliz

– disse-me em lágrimas e numa dor profunda de uma adulta que, com voz meiga de criança, descobre que afinal os pais aos seus olhos já não são os super-heróis capazes de tudo fazer por ela, mas sim humanos na fragilidade das suas necessidades e percepções individuais do mundo.

Esta situação deixou-me a refletir sobre a dor que carregamos em nós, por vezes uma vida inteira fruto da forma como “captamos” e “digerimos” o que nos acontece. Acontece que cada pessoa é um ser individual, único e complexo na sua forma de sentir e processar dentro de si esse Mundo que corre do outro lado da experiência interna e, como tal, “ingere” e “metaboliza” os acontecimentos da sua vida tendo por base uma estrutura muito própria e singular, quase como se a unicidade da informação genética, que cada um carrega internamente, dê-se lugar à expressão de uma consciência e mentalidade próprias e assim a um olhar ante o Mundo único.

Esta diversidade singular é, na minha opinião, a beleza do ser humano e também o maior desafio do mesmo, na conciliação da singularidade com a pluralidade de diversidade existente nos outros com que nos relacionamos, com aqueles outros dos quais somos filhos, pais, amantes, amigos, colegas de trabalho ou meros transeuntes a partilhar a mesma carruagem de metro.

Já soa cliché dizer isto, estamos todos fartos de saber, na minha opinião, que cada qual é individual e único e que esta diversidade traz uma gama imensa de formas de reação aos acontecimentos, contudo parece que em certos momentos nos esquecemos desta realidade e desta perceção individual do que nos rodeia e sofremos na pele, a diferença de uma experiência do Mundo, pessoal e individualizada.

O que quero dizer com isto é que, quando o outro não partilha da mesma visão, do mesmo sentir e reagir a certas circunstâncias, muitas das vezes somos os primeiros a apontar o dedo e tom acusatório e separatista. Olhamos para o que se passa no Mundo ao nosso redor, tirania, ganância, crianças em situações que nem queremos imaginar ainda serem possíveis em pleno século XXI, etc, e perguntamos – “Como é isto possível?” – e depois no seio das nossas relações, perante um sentir ou visões diferentes da nossa realidade, não pausamos antes de levantar o dedo acusatório.

Torna-se assim importante um processo de conhecimento das fundações das reações e ações que conduzem os nossos comportamentos.

Qual a raiz da dor e desconforto de determinadas ações e qual a fonte de prazer noutras?

Afinal que força motriz individual é esta que nos move e conduz as nossas escolhas (ou não escolhas)?

Muitos de nós ainda não conhecem estas forças e estão como barcos à deriva ao sabor de uma vontade interna, desconhecida da consciência individual.

Aquilo em que acreditamos sem questionar e o que mais valorizamos, assim como à própria vida, são a forças ocultas e fundadoras do avanços e recuos individuais. E, voltando à situação com que comecei, é o que determina a felicidade aos olhos de uns e infelicidade aos olhos de outros e quando esses outros são “os nossos” essa incompatibilidade traz-nos dor e sofrimento.

Como “os nossos” não percebem uma escolha nossa que, para nós, é sinónimo de felicidade? Como esses “nossos” acreditam e valorizam coisas diferentes das nossas?

É como questionar o facto de uma chave, que abre a porta da caixa de correio, não abrir a porta de entrada principal da casa. Simplesmente são encaixes diferentes, só isso, formas diferentes de ver e percecionar o Mundo.

Conhece-te a ti mesmo” –  Santo Agostinho

Abraçar o conhecimento de nós próprios, de quem sou, o que valorizo, no que acredito, é um dos caminhos para percebermos a forma própria com que internalizamos o Mundo e como re-agimos aos mesmo.

Se antes de tudo pudéssemos saber para onde vamos, e para onde tendemos, poderíamos melhor avaliar o quê e como fazê-lo. – Abraham Lincoln

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